1. Ah, aquela era uma era mágica. Sei que todo mundo vai dizer isso, quando estiver nos 4.0, e lembrar-se de seus dias de adolescência e puberdade. Mas é verdade: os anos 70 eram mágicos. A excitação púbere dos jovens ardia silenciosa em nossos corpos, não se enganem, mas ela era obrigada a expressar-se na forma de jogos sutis de conquista. Era um jogo de suavidades ávidas, de sutilezas cardíacas, de boca seca e saliva, de olhos à espreita, de contarem-se os minutos, droga!, que não começa a hora da música lenta...
2. O salão parava. Todos sabiam que a hora da música lenta era como o instante em que os cawboys sacavam suas pistolas - sem trocadilho, por favor - e disparavam. Desde o início da festa, meninos e meninas se entreolhavam, marcando condescendências à distância, insinuando-se. Os encontros eram marcados assim: vou dançar com você, dito pelos olhos, presas e predadores na mesma clareira, as corças ávidas pelo bote dos leões. E, então, as luzes se apagam, a penumbra reina, e cada fera salta sobre a gazela indefesa... Elas gostavam. E nós, também...
3. Lembro-me disso com muita saudade. Só me ressinto de duas coisas. A primeira, é que só conheci Bel depois dessa época, e, o que é pior para essa minha memória, na Igreja. Nos anos 80, acredito, não teríamos dançado música lenta... Em todo caso, estávamos na Igreja... Por outro lado, se nos houvéssemos conhecido antes, como crianças marcadas desde sempre, não sei se teríamoas ficado juntos. Termos nos conhecido na Igreja foi algo importante. Foi algo bom. Mas me roubou a memória do corpo de Bel a tremer de encontro ao meu, memórias alguma coisa entre sagrada e profana - não se deixe cair na tentação de suprimir qualquer dos dois, porque um é o outro lado do outro...
4. Outra coisa de que me ressinto é essa: descobri que dancei muito Jesus is Love, uma música gospel - sim, gospel! - dos Commodores. Nossa, não havia festa em que ela não tocava. Quando descobri que havia dançado muito essa canção, a sensação foi estranha. Uma vez que, na época, eu não sabia uma palavra em inglês, nem mesmo sabia o que era música gospel, sequer o que era uma igreja evangélica, nada podia ter feito. Além do mais, todo mundo dançava - o que significa que, das duas uma: ou ninguém sabia, então vamos que vamos, ou se sabia, mas não fazia a menor diferença...
2. O salão parava. Todos sabiam que a hora da música lenta era como o instante em que os cawboys sacavam suas pistolas - sem trocadilho, por favor - e disparavam. Desde o início da festa, meninos e meninas se entreolhavam, marcando condescendências à distância, insinuando-se. Os encontros eram marcados assim: vou dançar com você, dito pelos olhos, presas e predadores na mesma clareira, as corças ávidas pelo bote dos leões. E, então, as luzes se apagam, a penumbra reina, e cada fera salta sobre a gazela indefesa... Elas gostavam. E nós, também...
3. Lembro-me disso com muita saudade. Só me ressinto de duas coisas. A primeira, é que só conheci Bel depois dessa época, e, o que é pior para essa minha memória, na Igreja. Nos anos 80, acredito, não teríamos dançado música lenta... Em todo caso, estávamos na Igreja... Por outro lado, se nos houvéssemos conhecido antes, como crianças marcadas desde sempre, não sei se teríamoas ficado juntos. Termos nos conhecido na Igreja foi algo importante. Foi algo bom. Mas me roubou a memória do corpo de Bel a tremer de encontro ao meu, memórias alguma coisa entre sagrada e profana - não se deixe cair na tentação de suprimir qualquer dos dois, porque um é o outro lado do outro...
4. Outra coisa de que me ressinto é essa: descobri que dancei muito Jesus is Love, uma música gospel - sim, gospel! - dos Commodores. Nossa, não havia festa em que ela não tocava. Quando descobri que havia dançado muito essa canção, a sensação foi estranha. Uma vez que, na época, eu não sabia uma palavra em inglês, nem mesmo sabia o que era música gospel, sequer o que era uma igreja evangélica, nada podia ter feito. Além do mais, todo mundo dançava - o que significa que, das duas uma: ou ninguém sabia, então vamos que vamos, ou se sabia, mas não fazia a menor diferença...
5. Seja como for, ouvi dizer de bailes evangélicos em que meninos e meninas evangélicos fazem festas como aquelas da década de 70. Nunca fui a uma - melhor nem ir mesmo: baile de meninos e meninas, com corinhos e cânticos, ninguém merece... Seria muito estranho ver meninos e meninas, pacotes incontroláveis de hormônios, dançando ao som de cânticos de louvor. Não é que eu ache que haja algo de incompatível entre sensualidade e espiritualidade - não, não acho mesmo. Mas é que o fato de sermos tão incompreensivelmente refratários à música popular, à música "profana", acaba gerando distorções lamentáveis, plenamente dspensáveis se, em lugar de termos a cabeça tão dura, tivéssemos um pouco mais de bom senso...
6. Mas olha só, Bel, não faz mal que nos tenhamos encontrado, ah, Deus, obrigado!, só na Igreja, e que não tenhamos podido dançar naquele tempo das coisas meninas e dos negócios meninos, porque eu até posso brincar de fazer de conta que começamos assim, dançando, e posso fingir tanto que posso cantar que começaria tudo outra vez, e de fato, recomeçaria...
Começaria tudo outra vez Se preciso fosse, meu amor A chama em meu peito Ainda queima, saiba! Nada foi em vão... A cuba-libre dá coragem Em minhas mãos A dama de lilás Me machucando o coração Na sede de sentir Seu corpo inteiro Coladinho ao meu... E então eu cantaria A noite inteira Como já cantei, cantarei As coisas todas que já tive Tenho e sei, um dia terei... A fé no que virá E a alegria de poder Olhar prá trás E ver que voltaria com você De novo, viver Nesse imenso salão... Ao som desse bolero Vida, vamo nós E não estamos sós Veja meu bem A orquestra nos espera Por favor!Mais uma vez, recomeçar...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2 comentários:
O vocalista é o Lionel Richie?? O cara de Hello (http://www.youtube.com/watch?v=b_ILDFp5DGA)?
É, sim, Iara. Que negro estadunidense não terá surgido dos bancos de coro das black church? É elíssimo...
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