1. Quase pus o termo "ética" no titulo. Mas, como o termo "pastor", o termo "ética" está por demais desgastado - já não surte efeito, já não diz nada. Assim, vai o título técnico mesmo.
2. Naturalmente que o assunto me toca, já que me vi, há alguns anos, envolvido no redemoinho das "votações" corporativas. Mas quero tratar o mais imparcialmente possível do tema.
3. Em ambientes de administração mais ou menos colegiada, não há como fugir das reuniões de votação. Se são, vamos dizer, 15 pessoas a decidir isso ou aquilo, chega uma hora em que a decisão resolve-se no voto. Trata-se de "democracia". Não é lá o melhor dos mundos, porque a decisão da maioria não é necessariamente a melhor decisão - mas é a decisão da maioria... e pronto. Democracia não é o regime da melhor decisão, mas da decisão majoritária.
4. Ocorre que há modos e modos de a coisa ser feira. Um deles resume-se no seguinte. Um grupo, dentre aqueles 15, muito interessado, não importam as razões, no processo e na decisão do processo, reune-se antes da reunião decisiva. Esse grupo resolve a que decisão quer que o grupo maior chege e, então, combina não apenas o voto, mas as ações parlamentares de cada um dos membros do grupo. Vamos fechar nisso assim, assim. Você fulano, propõe, e você, fulano, apóia. Então, nós votamos.
5. Aparentemente, não há nada de "errado" com esse sistema. Mas, se olharmos mais de perto, ele não subverte a questão? A coisa toda não se trasforma numa decisão corporativista? Ela não tende a fechar os ouvidos do grupo a quantos argumentos outros se apresentem na reunião, já que estão todos fechados numa posição previamente acordada, e de seu interesse?
6. Já assisti a "causos" assim no BBB. Não assisto muito ao BBB, mas nessas dez edições do programa, inúmeras vezes observei combinação de votos. O compromisso se torna corporativo. Reuniões de condomínio, também, são ambientes muito propícios para a estratégia. Também já me vi submetido a pressões para "fechar" voto antes de reuniões deliberativas. Recusei-me. Criei constrangimentos. A médio e longo prazo, inimizades.
7. Talvez tenha sido uma intransigência de minha parte - que, ao menos, resultou revelar aspectos da persolanidade e caráter de meus interlocutores que, no dia a dia, não haviam, ainda, se revelado. Mas até hoje eu não sei dizer exatamente o que é que me constrange nesse "jogo" de votos marcados. Sinto-me desconfortável em face dele, mas não sei dizer exatamnte por que.
8. Está claro que a estratégia que discuto aqui transforma uma reunião em que se deveria tomar a melhor decisão possível em uma reunião para se fazer valer o que o nosso grupo previamente decidiu. Em tese, isso subverteria a democracia... mas, ora bolas, a democracia não é o sistema da melhor decisão possível, e, sim, o sistema da decisão da maioria. O que há de errado com a estratégia de fazer com que a maioria seja a "minha" decisão?
9. No entanto, confesso, constrange-me o jogo, a estratégia. E não sei exatamente a razão.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Naturalmente que o assunto me toca, já que me vi, há alguns anos, envolvido no redemoinho das "votações" corporativas. Mas quero tratar o mais imparcialmente possível do tema.
3. Em ambientes de administração mais ou menos colegiada, não há como fugir das reuniões de votação. Se são, vamos dizer, 15 pessoas a decidir isso ou aquilo, chega uma hora em que a decisão resolve-se no voto. Trata-se de "democracia". Não é lá o melhor dos mundos, porque a decisão da maioria não é necessariamente a melhor decisão - mas é a decisão da maioria... e pronto. Democracia não é o regime da melhor decisão, mas da decisão majoritária.
4. Ocorre que há modos e modos de a coisa ser feira. Um deles resume-se no seguinte. Um grupo, dentre aqueles 15, muito interessado, não importam as razões, no processo e na decisão do processo, reune-se antes da reunião decisiva. Esse grupo resolve a que decisão quer que o grupo maior chege e, então, combina não apenas o voto, mas as ações parlamentares de cada um dos membros do grupo. Vamos fechar nisso assim, assim. Você fulano, propõe, e você, fulano, apóia. Então, nós votamos.
5. Aparentemente, não há nada de "errado" com esse sistema. Mas, se olharmos mais de perto, ele não subverte a questão? A coisa toda não se trasforma numa decisão corporativista? Ela não tende a fechar os ouvidos do grupo a quantos argumentos outros se apresentem na reunião, já que estão todos fechados numa posição previamente acordada, e de seu interesse?
6. Já assisti a "causos" assim no BBB. Não assisto muito ao BBB, mas nessas dez edições do programa, inúmeras vezes observei combinação de votos. O compromisso se torna corporativo. Reuniões de condomínio, também, são ambientes muito propícios para a estratégia. Também já me vi submetido a pressões para "fechar" voto antes de reuniões deliberativas. Recusei-me. Criei constrangimentos. A médio e longo prazo, inimizades.
7. Talvez tenha sido uma intransigência de minha parte - que, ao menos, resultou revelar aspectos da persolanidade e caráter de meus interlocutores que, no dia a dia, não haviam, ainda, se revelado. Mas até hoje eu não sei dizer exatamente o que é que me constrange nesse "jogo" de votos marcados. Sinto-me desconfortável em face dele, mas não sei dizer exatamnte por que.
8. Está claro que a estratégia que discuto aqui transforma uma reunião em que se deveria tomar a melhor decisão possível em uma reunião para se fazer valer o que o nosso grupo previamente decidiu. Em tese, isso subverteria a democracia... mas, ora bolas, a democracia não é o sistema da melhor decisão possível, e, sim, o sistema da decisão da maioria. O que há de errado com a estratégia de fazer com que a maioria seja a "minha" decisão?
9. No entanto, confesso, constrange-me o jogo, a estratégia. E não sei exatamente a razão.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
4 comentários:
O que me incomoda nesses acertos é que eles me dão a impressão de uma certa arrogância: "nós, os dirigentes, sabemos o que é melhor e o que precisa ser feito". Então, em vez de apresentar todos os fatos, abrir espaço para as dúvidas, e até para críticas e ideias diferentes, simplesmente chegam com um pacote pronto. Mas, por outro lado, são poucos os "de fora" (os que não dirigem) que se dispõem a analisar criticamente o que ouvem... Apresentar um pacote pronto facilita a vida de todo mundo. Só é pena que, seja no trabalho, no condomínio ou na igreja, nem sempre os dirigentes têm tanta noção assim da melhor maneira de fazer o que precisa ser feito...
Sim, Iara, é verdade. Essa é uma das coisas que me deixa desconformtável com a prática. Mas é complicado, não é?
É complicado, com certeza. Tem reuniões democráticas que não chegam a lugar algum, tem outras combinadas que são um sucesso... E vice-versa.
O que talvez reduza o problema ao fato de o desconforto se der em razão do que você dissera - o fechamento do grupo em torno de uma prepotência: nós, e pronto.
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