quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

(2010/036) Melhor não saber


1. Minha mãe foi médium kardecista até longa idade. Freqüentava um centro próximo de casa, no alto da Avenida São Paulo, onde vivi grande parte de minha infância e juventude. Ela "via" coisas. Uma delas foi a queda do Viaduto Paulo de Frontin (aqui e aqui). Que ela me tenha contado, outra ainda, foi o assassinato do vigia da Padaria Paulista, na esquina da Av. São Paulo com a Rua Rio de Janeiro, em Mesquita/RJ.

2. Desciam ela e Dona Odete, vizinha da casa da frente e também kardecista, o morro da Av. São Paulo, tendo saído da sessão espírita. E subia um homem. Minha mãe teria visto um vulto se aproximar dele, e lhe dar um tiro. Era uma visão. Ela perguntou a Dona Odete quem era. Era o vigia da Padatria Paulista. Ele morrerá hoje à noite. Avisaram-no. Ele não creu. Na madrugada, um fusca parou em frente à padaria, dele saiu um homem e deu um tirou na cabeça do vigia. Nunca chequei a história, é claro. A de cima, contudo, ao menos a tragédia, foi real.

3. Minha mãe conta que abandonou por isso o kardecismo - porque via, e não podia fazer nada, de modo que o sofrimento era maior... De fato, abandonou completamente as sessões. Hoje, confessa a fé evangélica.

4. A mediunidade é um caso extremo. Fiquemos com a lucidez da vida - a consciência. É uma desgraça. Pergunto-me - e ontem o fiz por longos períodos do dia - que vantagem advém-nos dela? Os animais têm as mesmas alegrias que nós, pelo menos os mamíferos, e disso não advém qualquer vantagem nossa, dado o fato de termos consciência - trata-se da alegria mamífera, o folguedo dos filhotes...

5. Por outro lado, a consciência humana nos dá ciência das desgraças em escala inimaginável. E que bem há nisso? Há milenios adquirimos a consciência e o que conseguimos evitar, de desgraça, com ela? A fome? O estupro? A guerra? O crime? Só conseguimos dormir intranqüilos, assombrados com a maldade humana...

6. Melhor seria não saber de nada, viver como um tolo, ser um tolo, como as crianças, que acreditam que a vida se faz com Papais Noéis e coelhos da Páscoa. O pior, senhores, é que essas mitologias infantis até se perpetuam na fase adulta - as mitologias religiosas. Mas, se observarmos bem, elas, as mitologias religiosas, estão tão carregadas da consciência da maldade quando a própria realidade. Diria que as teologias deixaram-se contaminar pela consciência humana. Não há, pois, mais Paraíso possível...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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