1. Já disse que Tratado de Ateologia é um livro ruim. A sensação me veio ainda mais forte, porque comprei-o achando que encontraria - finalmente - um discurso "novo" para a defesa do ateísmo e o ataque ao teísmo. Nada. Como disse, não há nada em Tratado de Ateologia que Feuerbach e Saramago já não tenham feito - e mil vezes melhor.
2. Contudo, há uma afirmação (certamente não a única, naturalmente) muito acertada: "toda teocracia torna impossível a democracia" (1). É verdade. Frise-se: "toda teocracia. Sem exceção...
3. O cristianismo tem, aí, um problema sério para resolver. Entretanto, parece que, em termos de "redação" - na prática, as coisas são diferentes -, a tradição batista (pelo menos aquela consignada nesse curiosíssimo documento da CBB - Princípios Batistas) já resolveu o problema.
4. Num parágrafo em que se defende a democracia como o legítimo governo da igreja, mas isso quando e enquanto as pessoas são orientadas pelo "Espírito", imediatamente se acrescenta, bem no espírito da filosofia liberal inglesa do século XVII - "nem a maioria, nem a minoria, nem tampouco a unanimidade refletem necessariamente a vontade de Deus".
5. Com essa mão, assenta-se que a democracia deve estar sob a inspiração de Deus. Com aquela, afirma-se, sem escamoteamentos retóricos, que não se pode - nunca - saber, afinal, qual seja a vontade de Deus, seja recorrendo-se à maioria, à minoria ou à unanimidade...
6. Fica-se, assim, com uma "teocracia" de desejo, e uma democracia de fato. Quer-se que, afinal, essa democracia, a seu tempo e modo, submeta-se à "teocracia". Mas, registra-se, nunca se há de saber, nunca se pode saber...
7. É pena que nossas igrejas não levem isso a sério. Sabe-se demais da vontade de Deus nelas. Julgam-se, todos os dias, os homens e a humanidade inteira com base nela...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2. Contudo, há uma afirmação (certamente não a única, naturalmente) muito acertada: "toda teocracia torna impossível a democracia" (1). É verdade. Frise-se: "toda teocracia. Sem exceção...
3. O cristianismo tem, aí, um problema sério para resolver. Entretanto, parece que, em termos de "redação" - na prática, as coisas são diferentes -, a tradição batista (pelo menos aquela consignada nesse curiosíssimo documento da CBB - Princípios Batistas) já resolveu o problema.
4. Num parágrafo em que se defende a democracia como o legítimo governo da igreja, mas isso quando e enquanto as pessoas são orientadas pelo "Espírito", imediatamente se acrescenta, bem no espírito da filosofia liberal inglesa do século XVII - "nem a maioria, nem a minoria, nem tampouco a unanimidade refletem necessariamente a vontade de Deus".
5. Com essa mão, assenta-se que a democracia deve estar sob a inspiração de Deus. Com aquela, afirma-se, sem escamoteamentos retóricos, que não se pode - nunca - saber, afinal, qual seja a vontade de Deus, seja recorrendo-se à maioria, à minoria ou à unanimidade...
6. Fica-se, assim, com uma "teocracia" de desejo, e uma democracia de fato. Quer-se que, afinal, essa democracia, a seu tempo e modo, submeta-se à "teocracia". Mas, registra-se, nunca se há de saber, nunca se pode saber...
7. É pena que nossas igrejas não levem isso a sério. Sabe-se demais da vontade de Deus nelas. Julgam-se, todos os dias, os homens e a humanidade inteira com base nela...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
(1) Michel Onfray, Tratado de Ateologia, Martins Fintes, 2007, p. 151.
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