1. Ela é velha, muito, muito velha, a Teologia. Nasceu junto com o primeiro homem que inventou de ver coisas além/aquém/através das cosias, coisas invisíveis e vivas atrás das coisas visíveis, coisas que ele interpretou como gente viva, de outro mundo, logo, almas, logo, deuses... A certidão de nascimento da Teologia tem o bolor das coisas antigas.
2. É nobre o seu nascimento. Conquanto Freud tenha muita razão, quando diz que a religião é uma neurose humana - e o é -, ainda assim é nobre essa neurose, porque atende a demandas muito profundas da espécie humana. Não é por outra razão que foram precisos quantos?, cem?, duzentos?, milênios para que o homem pudesse olhar de frente seus mitos de infância... Os que podem fazê-lo...
3. Mas a Teologia, não. Ela não quer admitir que é, ainda, imaginação fértil da fertilíssima imaginação humana, primeiro assombro estético do medo e do assombro, e, depois, astucíssima política do Poder... Esquecida de que é mito, esquecida de que é imaginação, às voltas, contudo, com Poder, onde quer que a Teologia esteja, cega-se, cega-lhe o Poder. De modo que ela não quer, de modo algum, encarar-se de frente. Eu, mito? Não, eu sou é a Verdade...
4. Mas acabaram seus dias. Talvez voltem - é verdade. Talvez os homens e as mulheres que estão a nascer arranquem os olhos, vazem os ouvidos, tornem-se conscientemente cegos e surdos, e voltem para o Barroco. Talvez. Talvez não. Talvez os homens e as mulheres que estão nascendo desejem encarar de frente essa Senhora, e, olhando-a nos olhos, arrostar-lhe a condição mítica. Quem há de saber?
5. Confissão é um nome político para mito. Se eu digo que sou confessional, vá lá, há ai uma certa dose de condescendência com o tempo. Mas como eu posso me dizer adepto de mitos? Logo eu, a bater de porta em porta, a invadir o mundo... Não... mito, não. É Verdade.
6. Mas não, é não. E passou da hora de o admitirmos. Não se sente o cheiro?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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