1. Ao fiel que está diante da porta do templo, e que nele nao podE entrar, porque, no templo, oficiam apenas os sacerdotes, a esse fiel se chama "profano" - isto é, aquele que está diante da porta (onde a manifestação ["fania"] se dá). Em oposição, ao profano,, definindo-o e sendo definido por ele, o "templo" é o espaço sagrado. Se o templo for retirado, o profano não tem onde estar - não há porta, não há manifestação, não há sagrado. Se o profano for retirado, não há a quem o sagrado se manifestar, não há onde ele se manifeste, não há sagrado.
2. Segredo da Fenomenologia da Religião - o sagrado depende do profano, os deuses, dos homens. Bem que o sabiam os mitos - uma vez nascidos, os deuses logo criam os homens... A bem da verdade, é bem inverso, mas tanto faz...
3. Foi o protestantismo quem, necessariamente, secularizou o mundo. E o fez, tentando alcançar o efeito contrário - super-sacralizar o mundo. Todos os dias são sagrados - logo, não há dia profano, logo, não há dias sagrados. Onde não há profano, não há sagrado. Onde o tempo todo é sagrado, o tempo todo é profano - anulam-se, perde-se a noção da sacralidade. Onde todo lugar é sagrado, todo ele é profano, aliás, nada aí é sagrado, nada é profano, é, tudo, secular. "Lutero" pariu a modernidade secular, a consciência do desencantamento - e não era isso que queria, pelo contrário.
4. Ora, ora, ora - eis que me pego refletindo sobre o fato de que me venderam um céu todo-sagrado. E, então, fiz as contas: se todo o céu será sagrado, logo, não haverá profano. Se não haverá profano, logo, não haverá sagrado. Logo, o céu será dessacralizado. O céu é como a sociedade moderna... A crítica mata Deus, a confissão, o céu... Deicidas, somos todos.
5. Os alunos retrucaram: mas haverá inferno... Bem, se você, no céu, tiver consciência do inferno, e, então, passar a eternidade cantando corinhos de Lagoinha a Jesus, Deus teha misericórdia da tua alma. Aliás, um Deus que, tendo consciência do inferno, goze bovinamente da adoração de seus crentes-de-céu, ai, quem terá misericórdia de sua alma? O Jó de Jack Miles o sabia...
6. Não, o inferno, das duas uma: ou existirá, e não teremos consciência dele, e, logo, não afetará nossa percepção de sagrado, logo, tudo será sagrado, logo, nada será sagrado, ou, ao contrário, teremos, sim, conciência dele, e provado está que a religião cristã consegue unir o ápice da bondade com o cúmulo da perversão... Ou, simplesmente, não haverá nada. Pruridos eclesiásticos, quero dizer, à guisa de Eclesiastes, de quem outros hagiógrafos não guardam boa percepção: a vala comum do carbono...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
2 comentários:
Osvaldo, que devaneio aristotélico é esse, amigo??
Na verdade o sagrado é mais que o profano por não anular algo que não existia. A verdade por contingência das formas é que dá sabor ao descobrimento de uma nova forma de pensamento eclesiástico que Lutero não soube definir com clareza.
Entretanto, muito salutar suas postagens.
Shalom!
Penso, amigo, que aqui há uma divergência. A luz não é maior do que as trevas. É sua condição contrária. O som não é maior do que o silêncio, é sua necessidade. O sagrado não emerge à consciência sem a sua contraparte - o profano. Se você anula um, anula o outro. É como pensar em som sem silêncio, em luz, sem treva. Não há.
Lembro-me de Saramago e seu Evangelho Segundo Jesus Cristo, Deus, Jesus e o diabo discutindo, o diabo quer pedir perdão, mas Deus lhe responde que não, porque sem o diabo não há Deus"...
Shalom
Osvaldo.
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