1. Não posso fazer nada a respeito. Não gosto de música gospel. Beiram-me à mais profunda artificialidade, à espiritualidade produzida, fabricada, planejada, pensada, em tubo de ensaio, em estúdios de marketing. Não posso nem mais ouvi-las. Sim, é mea culpa, mea maxima culpa... Mas vivo bem com ela. Confesso outro pecado: orgulho-me dela, dessa culpa.
2. Agora, deixem-me dizer-lhes de que gospel eu gosto. Se entenderem, bem-vindos ao time. Se não, não dá pra explicar, mas tento. Sou telúrico, ctônico, da terra - da Terra. Fosse antes de 1984, eu diria que se trata de meu signo, capricórnio, mas, a despeito de que o que se diz dele encaixar-se quase que irretocavelmente em mim, direi que telúrico sou, e ctônico, por força da crítica e da encarnação da alma louca de Nietzsche em mim, ou, quem sabe, Deus não lhe tenha feito um anjo da guarda desta alma angustiada.
3. Não me agradam as coisas do céu, quero dizer, em ficar imaginando aquele dia, aquele lugar, que, se a Fenomenologia da Religião me ensina alguma coisa, logo estará secularizado, porque onde só há o sagrado, daí desaparece o sagrado. Por sso, as coisas profanas me cercam, e amo-as, porque amo o sagrado, e um depende do outro. Gosto da terra, de casa, de chorar.
4. O termo "crente" não me define mais, porque criou-se um esteriótipo dessa figura, que não me define mais. Mudei eu. Mudou o esteriótipo. Tornamo-nos estranhos um ao outro. Acho que a cultura de massa, a cultura pop-capitalista, fez a cabeça da massa evangélica, de modo que eu não posso arrebanhar-me. Precisamos - eu preciso! - de um nome novo pra usar. Porque não consigo me identificar com esse que, um dia, me deram.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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