1. Há três categorias de TCC - monografias de bacharelado, dissertações de mestrado e teses de doutorado. Não são a mesma coisa. Não têm a mesma função.
2. A meu ver, a função da monografia de bacharelado é uma só: a demonstração, a prova, da parte do estudante, de que domina as técnicas de pesquisa, de redação/comunicação de relatório de pesquisa. Mais nada. O conteúdo é irrelevante. O processo é que está em jogo. Estudante e orientador de estudante que transformam a monografia de bacharelado em outra coisa, não diria que estejam errados, mas estão saindo da função objetiva do trabalho. Posso fazer uma monografia para publicar? Posso - mas não é isso que está em jogo. O que está em jogo, e é isso que conta, é se aprendi a pensar, ler, pesquisar, redigir. O restante é perfumaria. Eventuamente útil. Mas não para o processo em si. Para além dele. Inútil dizer que há publicações inúteis, celulose para o bolor... Mas, monografias, nenhuma - se cumpriram o papel que lhes cabe.
3. Uma dissertação de mestrado tende à demonstração de que, agora, o mestre domina um assunto. Ele é mestre. Já tendo demonstrado a capacidade de pesquisa (bacharelado), agora demonstra domínio de conteúdo. Aqui, sim, é o conteúdo que conta, é o que se diz, por que se diz, como se diz. Há que se ter em vista que o que difere uma dissertação de mestrado de uma monografia de bacharelado é que o que está sendo medido, numa e noutra, são coisas absolutamente diferentes. Não se pode pensar monografia como quem pensa dissertação. Oientadores massacram estudantes, quando esquecem disso - se aprenderam. Talvez tenham sido vítimas do processo, e o reproduzem.
4. Já a tese é outra história: o doutoradno tem a obrigação de acrescentar "novidade" ao conhecimento. Não se trata de ter domínio de processos de pesquisa (monografia), nem de ter domínio de um assunto (dissertação). Trata-se de apresentar algo inédito, novo, seja em termos de conteúdo, de abordagem, seja de correção crítica de conteúdos. Mas tem que ser novo. Há inúmeras teses que não passam de dissertações de mestrado - luxuosas e caras - mas nada mais do que isso.
5. É uma pena quando fazemos e fazemos fazer coisas pontuais, sem a visão do conjunto. Julgamos-nos inteligentes, dominantes, profissionais, e, na verdade, agimos atabalhoadamente, desinteligntemente, presunçosamente. É preciso abaixar a bola. É preciso dar a João que é de João, e a Maria que é de Maria. É preciso saber que o melhor a se fazer é fazer o que se deve fazer. À vezes, o mais, é menos.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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Relevante! Mas ficou-me uma dúvida quanto à monografia: se o que está em jogo é se o aluno aprendeu a ler, pesquisar, redigir e ao mesmo tempo o conteúdo é irrelevante, como mensurá-lo, avaliá-lo? Seria apenas na "forma", na estrutura do trabalho? Concordo que há, e muito, um desvio da função objetiva do trabalho, e outros fins à ela propostos, como ressalta muito bem, só não entendi como conjulgar um trabalho que não fuja a sua função objetiva, mas que tem um "conteúdo irrelevante". Ou seja, como se "materializa" um trabalho que cumpra com sua real função.Abs,
Edemir.
Edemir, obrigado por sua reação. Quando eu disse que o conteúdo da monografia de bacharelado é irrelevante, quis e quero dizer é que não é o conteúdo, a proposição, a hipótese defendida, que interessa. Interessa, sim, se essa hipótese está sustentada nos termos da teoria/metodologia científica - no "meu" caso, as Ciências Humanas. Nesse caso, deve ser óbvio dizer que o conteúdo será, sim, avaliado, mas não por si mesmo, ou seja, por sua ortodoxia, sua hegemonia de cátedra, sua autoridade traditiva, sua pertinência mercadológica ou qualquer outro critério. O conteúdo será avaliado por meio da análise crítica dos processos de desenvolvimento empregados, das rotinas de argumentação, do método, da retórica de "prova".
Assim, ressalvadas as imposições teórico-metodológicas das ciências, no interior das quais se deve situar a liberdade de pesquisa do estudante, é na relação entre problema central, problemas corolários, quadro teórico-metodológico, fontes primárias, abordagem e, conseqüentemente, hipotese(s) que o trabalho deve ser avaliado. Não é o que ele diz. É como ele diz, com base em que. Isso quer dizer: pensar, ler, redigir e comunicar.
Assim, ressalvadas as imposições teórico-metodológicas das ciências, no interior das quais se deve situar a liberdade de pesquisa do estudante, é na relação entre problema central, problemas corolários, quadro teórico-metodológico, fontes primárias, abordagem e, conseqüentemente, hipotese(s) que o trabalho deve ser avaliado. Não é o que ele diz. É como ele diz, com base em que. Isso quer dizer: pensar, ler, redigir e comunicar.
Um comentário:
Compreendido!!A didática, em toda postagem, está excelente.
Obrigado,
Edemir.
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