1. O texto abaixo constitui resposta que encaminhei a alguns alunos, a partir de debates entre eles, sobre o tema das "modalidades" teológicas, discutido em Teologia Brasileira, disciplina que modero no Curso de Teologia (STBSB). Se eles autorizarem, posteriormente publico seus textos. O meu, publico-o eu:
Olá, turma...Interessantes as provocações. Hoje não, mas talvez escreva uma réplica em Peroratio. Acho que o assunto pede. Seja como for, há uma forma de simplificar a abordagem.Seja pensada a "tradição da fé", o "depósito" recebido, consubstanciado na forma de doutrinas, dogmas, tradições, homilias - alfarrábios de coisas escritas e pregadas. Pois bem: é em face DESSA tradição que se podem pensar aquelas três "modalidades" deTeologia.1) Se eu me filio a ela, se me faço fideísta voluntarista, afirmando-a nos termos dela mesma, nos termos em que ela mesma - a "fé" (enquanto doutrina) - se me apresenta - sou ontológico. As palavras que uso referem-se, então, a realidades metafísicas e destinam-se à comunidade que me cabe, por carisma, "liderar". Sou um teólogo clássico, metafísico, ontológico.2) Se eu me filio - apenas - à dimensão retórica dela, se me aferro apenas às palavras que ela contém, como espuma, ao passo que não considero, porque sou "kantiano" (ou outro "louco" do XIX), nesse caso não sou metafísico, sou, apenas, retórico, logo, metafórico. Não sou um teólogo clássico. Mas quem me vir de longe, falando, até achará que sim, porque uso, da mesma forma, as mesmas palavras que um teólogo ontológico - eventualmente, até "prego" igual. Mas as palavras que uso não apontam para uma"metáfísica" - são caixinhas polissêmicas abertas, estéticas - e políticas. Por que políticas? Porque se dirigem, ainda, à comunidade, porque ainda querem construir, ou manter, sentido.3) Se, agora, diante dessa "fé", tão-somente pergunto o que é ela, se tão-somente me encarrego de aproximar-me dela, de investigar-lhe o conteúdo, a história, a origem, os encarregados, os modos, se faço "pesquisa", história, "exegese", se aplico a ela, à"fé", as ciências humanas, então, a Teologia que faço é fenomenológica. Não há nem adesão fideísta-voluntarista a seu conteúdo (ontologia), nem há instrumentalização retórica de sua espuma (metáfora) - há investigação crítico-fenomenológica de sua ideologia constitutiva.Com isso, fechamos um ciclo - o de como alguém hoje pode lidar com essa tradição - assumindo uma das três estradas... Contudo, as razões civilizatórias, bio-psicológicas, antropológicas, que levaram a humanidade a produzir tais sistemas permanecem. Reduzidas a construtos culturais inexoráveis, essas caixinhas de doutrinas, essa fé, esses dogmas, pulverizam-se, mas permanece aberta a fenda da consciência que os engendra. De modo que é necessário olhar para isso, e pensar um novo jeito de tratar essa fenda, a origem da necessidade desses discursos "religiosos". Mas esse novo jeito não pode ter a base que tinha há séculos - deve ser, no mínimo, cognitivista. Deve ser "esclarecida", emancipada. Deve ter o DNA das Ciências Humanas, e, até, das Naturais - porque somos, antes de tudo, também, animais.Não podemos repetir tudo de novo. Temos de aprender a lidar pós-politicamente com esse "Mistério" [por favor, nada de "ontologia" aqui - nem teísmo, nem ateísmo, mas dúvida mística. Sim, sim - mística, mas, sobretudo, dúvida...]. Não tenho, ainda, um nome para isso. Mas penso que aqueles três caminhos estejam devidamente bem amarrados. No que diz respeito a cada um, é o possível. E, se me permitem um encaminhamento, um dos poucos que podem contribuir para a tarefa de pensar esse hoje-amanhã é Edgar Morin. Qualquer coisa de futuro tem de passar por O Método.Até lá, então.Um abraço,Osvaldo Luiz RibeiroPS. parabéns, Cassia a Eduardo, pelo enfrentamento de questões tão importantes. De Cassia, alegra-me a coragem de assumir-se. Isso é, precisamente, tornar-se pessoa, em sentido rogeriano. Ao Eduardo, parabéns pela fixação de tudo na vida concreta. Pessoas reais nascem nuas... É a cultura que nos põe em trapos bonitos... Ah, sim, são -mesmo - lindos (ah, um belo terno de linho...). Mas os melhores momentos da vida pedem nudez... se me entendem...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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