sexta-feira, 18 de setembro de 2009

(2009/478) Como assim "sociedade pós-metafísica"?


1. De um lado, a absoluta falta de recursos, e, de outro, a absoluta falta de articulação político-institucional implicaram em minha não-participação do Congresso da UNISINOS a que Haroldo faz referência e de cuja palestra de encerramento apresenta transcrição. Todavia, gostaria de ter estado lá, apresentado comunicação.

2. Diria assim: "Do que se está falando? De que 'sociedade pós-metafísica' se está falando?". Apesar de o Congresso dar-se na UNISINOS, em São Leopoldo, não se pode estar falando de nenhuma região das Américas. As Américas, todas, desde o norte até o sul, são, integralmente, ainda plenamente metafísicas. Deus aí é fato e dado, ontologia inequívoca. No máximo, para atender a alguns muxoxos, poderíamos admitir rincões duvidosos no Canadá, menos ainda, nos Estados Unidos da América, mas, do México para baixo, desde o Caribe católico-anímico, até a América Latina absolutamente católico-mágica, falar em "sociedade pós-metafísica" parece filme cult... europeu...

3. Ora, a própria Teologia - a que está no MEC, a brasileira - está esperneando - literalmente - contra uma decisão de tratar-se Teologia como "ciência humana" de verdade, argumentando que todas as Ciências Humanas são humanas, mas a Teologia é divina! Ora, se os administradores da metafísica e da ontologia acabam de dizer que a metafísica é inegociável, e essa é a porção, digamos, mais "intelectualizada" do espectro cristão, o que dizer das massas, aquela que vai atrás das romarias e das liturgias?

4. No Congresso último da ABIB, em São Paulo, alguém apresentou um trabalho sobre a necessidade de uma gramática do grego apropriada para a consciência pós-metafísica... O professor André Chevitarese (UFRJ) estava na "platéia", e interveio, algo assim: "mas, no Brasil, vivemos, ainda, na Idade Média - como assim sociedade pós-metafísica?". Eu estava lá, e pensei comigo que isso era no que dava a importação acrítica de termos europeus. Vattimo no Brasil - faz-me rir... Sequer por 1789 passamos. Nem levamos a sério a expressão "República". Onde Kant abriu o olho, Barth os furou! Fazer de conta que a geopolítica, a sociologia, a antropologia, a psicologia, a teologia brasileiras estão de acordo com o calendário europeu não me parece muito pertinente...

5. Talvez tenha sido providencial minha falta de recursos e traquejo institucional. Teria sido uma espécie de desmancha-prazeres. E desmancha-prazeres não são lá muito bem queridos.


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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