domingo, 17 de maio de 2009

(2009/265) Depois dos "de Adão", os "filhos de homem"


1. Enquanto passam de sessenta as ocorrências de "filhos de Adão", são apenas seis, em cinco passagens, as ocorrências de "filhos de homem" na Bíblia Hebraica - os primeiros, "bene 'adam", os segundos, "bene 'ish". Se eu estiver certo, a tradição fez uma confusão dos diabos: o que me parece ser os "bene 'adam", ela diz ser os "ben 'ish". O artigo está disponível para ser lido, ainda não publicado formalmente em revista indexada: Osvaldo Luiz RIBEIRO, Bene 'ish - os "filhos de homem" na Bíblia Hebraica (16/05/2009). Depois de o ler, pode-se ler, também, o anterior: Bene 'adam - os "filhos de Adão" na Bíblia Hebraica (11/05/2009).

2. É impressionante como a tradição agiu nesses casos. Salvo melhor juízo, ela - tanto a tradição judaica quanto a cristã, tanto a medieval quanto a moderna - assumiu (desde Maimônides e Calvino) que "bene 'ish" são os nobres e que "bene 'adam" são os pobres, e essa definição inexorável pulula a hegemônica e inexorável maioria das publicações. Resinto-me de uma consulta aos alfarrábios histórico-críticos "imperialistas" (fui chamado assim, uma vez) alemãos, aqueles das estantes empoeiradas, para ver se um deles disse a mesma coisa que estou dizendo. Não consigo crer que uma evidência tão à sperfície tenha passado despercebida.

3. O que eu faço é ir a todas as ocorrências e analisá-las uma a uma, segundo os contextos semântico, fonético, poético e pragmático. É meio que nadar contra a corrente, mas me parece bastante historiográfico e arqueológico. Foi assim que descobri que os serafins são representações da serpente de bronze - Nehushtan. Foi assim que descobri que "criar", na Bíblia Hebraica, é "construir". Foi assim que descobri, agora, que "bene 'adam" são os nobres, e não, os plebeus, e que "bene 'ish" são os plebeus, e não, os nobres. Quer dizer, se é que descobri mesmo.

4. Não pense que se trata de tema "menor". Não estou interessado em "ir para a frente" com ele. O que eu quero está "lá atrás", já disse, é o 'adam de Gn 1,26 - para mim, o rei. Mas os mesmos termos estão na base da identidade de quem Jesus de Nazaré dizia ser quando empregava o título "Filho do Homem" para si - ou quando a tradição lhe aplicou, tanto faz. O Filho do Homem dizia de si ser ou "pobre", ou dizia de si ser o Rei? Ora, a tradição fez dele tanto um carpinteiro, e aí ele não é um "nobre", quanto lhe deu um epitáfio real: "et imposuerunt super caput eius causam ipsius scriptam: 'hic est Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum" (Mt 27,37).

5. Confesso que não me interessa esse desdobramento, conquanto ele seja relevante. Interessa-me a identidade do "Adão" de Gn 1,26-31, que a história da interpretação fez aproximar-se do "terroso" agricultor de Gn 2,7, mas que, aposto minhas fichas todas, trata-se, antes, daquele que, assentado sobre o trono de Jerusalém, "domina" sobre toda a criação (cf. Sl 8). Quando descobri que a criação em Judá é a própria Judá, caiu-me a ficha. Ou vi miragens. Hum?


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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