quarta-feira, 13 de maio de 2009

(2009/259) Chega a dar medo


1. A BBC Brasil noticia o caso de um pobre cidadão estadunidense que passou 22 anos no corredor da morte, acusado de estupro e assassinato. O cidadão está com esclerose múltipla - perdeu a vida toda naquele inferno. Agora, graças aos serviços de uma agência que promove a reabertura de casos com base em DNA, conseguiu-se fazer com que o caso fosse reaberto, e o cidadão, coitado (ele deve ficar o quê? - alegre?), foi inocentado - o DNA da vítima não era dele - como ele insistintemente dizia há 22 anos. 22 anos! São os anos que tenho de casado, Bel e eu. 22 anos. E o "sistema jurídico-indiciário" houvera provado a culpa de Paul House. Culpa, agora se sabe, falsa. "Prova" houvera - culpa, não. O "sistema" enfiou-o - 22 anos - no corredor da morte. Morte por morte, sua esclerose já o levou embora. O que sobrou de House?

2. Esse caso me tocou profundamente, porque venho de pesquisar uma série de comentários ao Sl 53 - um número bom de comentários. Fiz isso porque estava pesquisando os "bene 'adam" na Bíblia Hebraica, e eles estão lá, no Sl 53,3. Os comentários todos que consultei afirmam que se trata da "humanidade", ou do povo pobre israelita de modo geral, e que o salmo fala de ateísmo... Está lá, em cada comentário, dado como certo. Nomes importantes, de Maimônides e Calvino até gente muito boa do século passado, atestam a sentença. Mas o DNA não é de House, não...

3. Nada no Sl 53 tem a ver com ateísmo. Os "filhos de Adão" nada têm a ver com o povo, muito menos com a "humanidade" - eles são os membros do governo real de Jerusalém. O DNA não é de House, mas ele ficou 22 anos esperando a morte, que, certa, ela não quer saber de provas de tribunal, falsas ou não, veio devagarinho, e levou o corpo na frente, deixando a alma, miserável, de House, para deliciar-se com o sofrimento. E, na pesquisa, lá se vai a interminável fila das exegeses afirmando que se trata de ateísmo e de humanidade, aquilo ali no Sl 53.

4. Dá até medo. Se as "autoridades", estejam onde estiverem, têm tão pouca segurança quanto ao que fazem - mas fazem-no como se tivessem toda a "autoridade" para o fazer -, põem vidas em corredores da morte, almas no inferno, corpos no cárcere e na falsa certeza - quanto risco não corremos? Que segurança tenho eu? É preciso fazer como o "Innocence Project, uma organização ligada à Yeshiva University em Nova York": re-investigar essas "sentenças", antes que a vida de muita gente apodreça nas masmorras - ainda que sejam as masmorras do espírito...


OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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