sexta-feira, 13 de março de 2009

(2009/083) Bizâncio e Gn 1,1-3 - quem diria!


1. Haroldo, olha que coisa sensacional achei no verbete Michel Balard e Alain Ducellier, Bizâncio e o Ocidente, em Jacques Le Goff e Jean-Claude Schmitt, Dicionário Temático do Ocidente Medieval I, EDUSC, 2002, p. 119:

1.1 "Esta 'cegueira geográfica' dos bizantinos não se deve ao acaso, e sim à concepção romano-bizantina do poder imperial, encarnação terrestre do poder de Deus, que sacraliza não apenas o soberano, mas também a totalidade dos territórios e as pessoas que reconhecem sua supremacia. Deste modo, vistos do Império, os espaços exteriores, pagãos ou 'cristãos rebeldes', formam uma 'barbárie', que, para os antigos e ainda (...) no século VI, cerca o ecúmeno e são considerados inexistentes porque não reconhecem a autoridade de Constantinopla; eles nem mesmo podem ser descritos, pois ainda pertencem ao mundo do caos".

2. Deus do céu! É o não é, mutatis mutandis, minha Tese de Doutorado, mas, em lugar de falar de Judá, especificamente, e do Oriente Próximo, de modo geral, fala da Bizâncio "medieval"?

3. Anoto aspectos que, no detalhe, são equivalentes, aqui e lá:

3.1 O fato de que o ambiente sagrado, o território imperial, é chamado de "ecúmeno". Em minha Tese, chamei de "oikumene", usando o termo grego. O Dicionário cunhou um termo no vernáculo, "ecúmeno", que, a rigor, não passa de transliteração/tradução do termo grego que usei, e, nesse caso, inspirado por Magnum Ottossom. E vocês, a banca, me combraram uma tradução...

3.2 O fato de que esse espaço sagrado, a "criação", é constituído, ao mesmo tempo, por três elementos: o "rei", o "povo" e o "território", este, obviamente, fazendo-se constar com as devidas instalações.

3.3 O fato de que o que se estende para além desse "ecúmeno" é "caos".

4. Para fechar com perfeição a analogia Judá/Bizâncio, eu devo aprofundar as pesquisas e ver que papel a "água" ocupa na descrição mítica desse caos. Eu apostaria muitas fichas na seguinte hipótese: em Bizâncio, esse caos constitui a reserva criacional que, expulsa pela ordem da criação, mantém-se nas franjas desta, como ameça eterna de descriação possível, exatamente como em Judá, em Gn 1,1-3 e nas narrativas do dilúvio...

5. Pena que não achei esse texto durante minha Tese. E o mais irônico é que esse Dicionário, tenho-o há uns cinco ou seis anos, e somente agora fui "ler" - ler um dicionário! - para a prova que me espera. Antes tarde do que nunca! Mas aquele gol a que você se referia vai-se configurando a cada dia como um gol legalíssimo!



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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