sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

(2019/038) Biafra (hoje Byafra) e os dias bolsonarianos de ontem e de hoje


1. Sim, os dias bolsonarianos são horrorosos, porque a gente desse tipo é horrorosa. Mas os dias bolsonarianos são apenas a saída para a luz do dia dos vermes que sempre estiveram enfiados em troncos podres e ocos, nas sombras, desde sempre. Se é possível impedir que dias bolsonarianos venham á luz (e esses só vieram por conta de conluios da direita e da classe média, que contrataram seus monstros de aluguel para fazer o serviço sujo que eles não podiam fazer), parece não ser possível extirpar esses monstros que, quando o dia de seu festim público acaba, retornam para as privadas de onde nunca deviam ter saído...

2. O Brasil sempre esteve carregado pelos valores que hoje assustam. Às vezes, tais valores estão sob controle social, mas, de quando em quando, eles vão para as manchetes, as TV e a internet. Homofobia, machismo, misoginia, racismo, preconceito, todo esse lixo está pousado no fundo do lago Brasil. Basta que alguém mexa no lodo em repouso e as águas se tornam pútridas e envenenadas pelo que sai de cada um dos seres covardes que ali vivem...

3. Olhem esse trecho da canção Sonho de Ícaro, de Biafra, dos anos 80:

"Fugir meu bem
Pra ser feliz
Só no pólo sul
Não vou mudar
Do meu país
Nem vestir azul"

4. Já naquela época, ser gay e ser feliz ao mesmo tempo era um desafio. Fugir do país? Mas há algum lugar em que se possa, nessa condição, ser feliz? Só no polo sul! Não vou fugir do meu país! Parecem os dias de hoje, não parecem? Mas eram os "cândidos" anos 80, anos de armário como regra, fazer-se de hétero: "vestir azul", que, na letra da música, me parece uma alusão à letra da famosa canção "Vesti azul", do Simonal, cuja referência nesse caso me parece dizer que fingir-se hétero não é uma opção.

5. Biafra cantava uma letra sutil, mas, nessa estrofe, declaradamente de resistência, de enfrentamento. Os dias de então estavam cheios dos mesmos monstros horríveis que vemos hoje por aí. O lago não estava mexido, os dias não eram os dias do esgoto bolsonariano, mas os monstros estavam lá. "Fugir, meu bem? Pra ser feliz? Ah, só no polo sul! Pois eu não vou mudar do meu país nem vestir azul!





 








OSVALDO LUZI RIBEIRO

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