quinta-feira, 15 de março de 2012

(2012/284) Por que a "pesquisa" e a "crítica" estão fora da "Igreja" - um capítulo do insuspeito Hasel, da insuspeita JUERP

1. A JUERP foi a Editora oficial dos batistas (brasileiros) durante décadas. Faliu. Mais do que falência, mas, para o que aqui basta, falência. Ela nunca publicou material de envergadura teológica - não era seu nicho de mercado nem a vontade de seus diretores. Pouca coisa, pois, realmente boa, foi publicada. Mas uma ou outra "escapou". Hasel foi uma delas.

2. Foram dois livrinhos, um amarelo e outro azul. Um, Teologia do Antigo Testamento, de Gerhard  F. Hasel. Hoje, está esgotado. Só em sebo. Publicou-se um volume desse e do volume do Novo Testamento juntos - vende-se a preço de ouro. No sebo, compra-se a cinco reais.

3. Os três primeiros capítulos do Hasel do AT (o amarelinho) são muito bons. O primeiro, imperdível. Hasel conta a história da Teologia Bíblica do Antigo Testamento. O texto não ficou adequadamente dividido, mas as informações estão todas lá. 

4. Vou resumir, porque o texto está disponível abaixo. Depois da Reforma, uma vez que a Bíblia foi posta na mão da sociedade, acabou-se percebendo que o que se dizia dela não era o que se encontrava lá. A única forma de você encontrar lá o que a Igreja dizia - e diz - que lá estava era ler alegoricamente - leitura confessional da Bíblia. Mas a Reforma tinha laços com o Humanismo, que lia "historicamente", "gramaticalmente". Muitos protestantes passaram a ler assim, "historicamente", "gramaticalmente". Não dava pra fingir que ler alegoricamente era ler. Não demorou muito para implodir o modelo de leitura doutrinária.

5. Em menos de 200 anos, a crítica havia invadido a leitura bíblica - inventou-se o método histórico-crítico. A leitura da Bíblia punha de cabeça para baixo o que a Igreja dizia da Bíblia. A Igreja não gostou. Reagiu. No final do século XVIII, a crítica separou-se da Igreja, e foi viver sua vida. A Igreja continuou fazendo que lia e ensinava a Bíblia, quando, na verdade, ensina doutrina e tradição. A crítica foi demonizada. Fim da história. Hoje, Igreja de um lado, acrítica, confessional e dogmática, e crítica do outro, pesquisando, tateando, "fuçando".

6. Não é honesto nem verdadeiro dizer que a crítica se encastela em sua torre de marfim, que os críticos e eruditos são excêntricos. Não é justo. Tanto quanto ontem, hoje, a crítica não encontra lugar na Igreja - com raras exceções. Na Igreja, vigora a lei inexorável do tudo que seu mestre mandar faremos todos - mesmo entre aqueles que se julgam "progressistas", que, com a direita criticam os fundamentalistas, mas com a esquerda ensinam as mesmas doutrinas, e, pior, têm as mesmas práticas políticas.

7. Crítica e pesquisa, na Igreja, só para confirmar as doutrinas, as missões, as práticas consagradas, os lugares de cada um.

8. Há crentes e protestantes críticos. Igrejas, não. E acho que jamais haverá.

9. Com vocês, o conservador Gerhard Hasel, que, diferente de muito conservador, ele, apesar de conservador, tem olhos na cara e não falseia a realidade. Recomendo. Com um conservador assim é possível diálogo.






OSVALDO LUIZ RIBEIRO

2 comentários:

Anônimo disse...

É interessante como vamos observando que o que falta ao homem para conseguir usar eficazmente os olhos que tem na cara são necessárias algumas balizas que lhe orientem os passos. Veja que digo orientem os passos, e não lhe definam onde vai pisar.
Essas questões todas que decorrem da crítica em relação ao resultado da pragmática política adotada pela Igreja eu as pressentia há muito tempo, mesmo quando militando em outras searas mítico-metafísicas, mas, buscando saídas, fui dar à teologia da libertação inicialmente, e, mais recentemente, a Ricardo Gondim e cia..
Agora, lendo esse post, quando você se referiu a "aqueles que se julgam 'progressistas'" dizendo que eles ensinam as mesmas doutrinas através das mesmas práticas políticas, então eu consegui entender porque tinha a sensação sempre, apesar do ar de renovação que encontrava, de estar trocando seis por meia dúzia.
Dia desses ia me dirigindo a uma livraria no centro do Rio para comprar um exemplar do livro "Do terror de Isaac ao Abbá de Jesus", do teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga, quando, no meio do caminho, me ocorreu que ele, não obstante dizer o contrário do que dizia a ortodoxia da Igreja Católica, ainda partia da mesma base epistomológica mítico-metafísica, e que seria mais ou menos a mesma decepção sua com o Lévinas... fui direto para o trabalho.
Grande abraço!

Peroratio disse...

Vou responder em post.

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