quarta-feira, 18 de março de 2020

(2020/030) Fui fundamentalista

Já tem salafrário a pregar no Youtube a relação entre o Cod-19 e a volta de Jesus. Burro velho. Não é garoto novo, não. É burro velho. Ser fundamentalista nessa idade, pelo terno, é uma questão de grana...

Fui fundamentalista. Entrei para a igreja em 1984, e, como todo novo convertido de igreja evangélica, virei fundamentalista. Púlpito fundamentalista, EBD fundamentalista, culto fundamentalista, a gente só pode nascer na fé fundamentalista. 

Mas tudo sempre pode piorar. Meti-me em teologias dispensacionalistas. Tornei-me um entojo com pernas. Fundamentalista que presta é vaidoso da fé: tem orgulho de ser a besta que é!

Mas eu era moleque novo. Em 1984 eu ainda ia fazer 19 anos. Abracei a fé com todo o coração, com toda sinceridade, tornei-me bastante pietista, conquanto não pentecostal.

Em 1987 entrei para o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Bastaram dois anos e meio, de um total de seis, para o curso me mudar completamente. Entrei fundamentalista no curso e saí um teólogo negativo (refiro-me à teologia negativa, tecnicamente falando). Era o início de minha revisão teológica total, que culminaria em uma radical reviravolta e na minha total desconversão.

Naquele período, li a Bíblia toda 4 vezes. Uma quinta, interrompi na metade. O fato de eu ter me tornado um não crente não me fez abandonar a pesquisa acadêmica da Bíblia, que faço até hoje. O fundamentalismo ficou no passado. Durou cerca de seis, sete anos. E acabou.

Digo isso porque qualquer um que honestamente estude mesmo dentro do ambiente religioso faculta-se a evidência incontestável de que sua fé é um arremedo. Não faz a crítica e não abandona a estupidez fundamentalista quem não quer.

Claro que o fato de eu não ter me tornado um pastor facilitou minha desconversão. Esses caras que estão já no Youtube falando asneira santa, essas cavalgaduras, esses criminosos, esses recebem salário para manter pessoas na imbecilização.

Cá entre nós, 10 anos, 20, 30, vomitando as asneiras fundamentalistas, com tudo de ruim que isso produz socialmente, de misoginia a homofobia, é um crime.

Gente má. Gente doente. Mas assalariada...

E com um conveniente: quanto mais Cod-19, mas vão embolsar, pregando essas asneiras santas...







OSVALDO LUIZ RIBEIRO


Um comentário:

O Tempo Passa disse...

Não sei o quão fundamentalista fui. Por nascer numa família que tinha a Ciência em alta consideração, os extremos do fundamentalismo foram evitados. Mas o edifício começou a ruir pouco antes da faculdade, quando fiz intercâmbio no States. Depois, com meu curso - Geologia - aumentou a rachadura, e, finalmente, minha maturidade aos 40 e poucos anos incumbiu-se de desmoronar. Mas, até hoje, percebo traços fundamentalistas em minhas ideias. Difícil, né? Mas, vc tem sido uma ajuda e tanto neste caminhar. Obrigado.

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