1. Digamos que Deus aparecesse nos céus e dissesse exatamente assim: olha aí, humanidade, sabem quem faz as coisas boas acontecerem? Eu. Sabem quem faz as coisas ruins acontecerem? Eu. Quem faz um filho nascer? Eu. E quem faz um filho morrer? Eu. Eu e nenhum outro.
2. Naturalmente que isso de Deus aparecer no céu não vai acontecer nunca. Mas alguém já se pronunciou em nome de Deus, na Bíblia, na forma de uma declaração do próprio Deus, na qual ele diz exatamente isso: eu faço a luz e crio a treva, eu faço a paz e crio a desgraça. Isso está escrito, em nome de Deus, em Isaías 45,7. Pode pegar sua Bíblia e conferir.
3. Por isso não há diabo no Antigo Testamento. A função do diabo, na religião, é explicar o mal. Mas se a religião explica o mal como criação do seu próprio deus, então não se precisa recorrer ao diabo para explicar as desgraças. No Antigo Testamento, Deus era o criador de tudo que era bom e de tudo que era ruim. Era soberano.
4. Depois, os judeus passaram a dizer que Deus só faz o bem, mas não o mal. Por exemplo, leia Jeremias 9,24 - eu faço o amor, o direito e o juízo na terra. Nada de desgraças e mal. Por isso os judeus começarão a inventar o diabo, e, depois de algum tempo, escreverão também seus mitos de origem. No Novo Testamento, Deus é assim apresentado - amor. E chega-se a dizer que de uma árvore boa não pode sair fruto ruim. Sendo Deus bom, só devia haver bem no mundo, mas como tem tanto mal quanto bem, o Novo Testamento tem um deus bom e um milhão de diabos...
5. A questão é: que implicações psicológicas há em uma religião cujo deus é o autor das desgraças? Ninguém culpa ninguém. Se teu filho fica doente, ninguém procura razões na tua vida para explicar essa desgraça. Deus fez. Pronto. Nada mais a dizer. Quando, desgraçadamente, inventaram de dizer que Deus era só bom, aí deu-se a miséria. Se Deus é bom, e não pode fazer o mal, mas se o mal acontece, então não se pode explicar o mal pondo a culpa em Deus. Logo, só sobra culpar o próprio homem.
6. Por isso, todo religioso que você conhece e participa de alguma tradição cristã sempre culpará as pessoas pelas desgraças, e nunca culpará Deus. Pecado cometido, pecado cometido sem saber, não deu dízimo, tem maus pensamentos, é herege, é infiel. Não faltarão explicações. Entre culpar essa pessoa de carne e osso diante de mim e aquela Ideia santa, não se há de fraquejar: a carne é sempre a culpada.
7. Por isso o cristão até pode arvorar-se em ser bom - ah, e como são vaidosos. Mas não há um só entre eles. Um só. Bem já se dizia no Novo Testamento: a ninguém chameis bom, porque bom há um só, Deus. Certíssimo: onde Deus é bom, todos os homens só podem ser celerados...
8. Compreende por que você olha com olhos de culpa para todo mundo?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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