Quando meu amigo e professor Haroldo Reimer me apresentou mais detidamente a H. G. Gadamer, desde a primeira leitura meu nariz sentiu um cheiro estranho. Imediatamente, escrevi que eu não podia concordar com quem elegia a tradição como critério, seja histórico, seja normativo, porque se trata simplesmente de uma falácia: se eu estou preso à minha tradição, não se explica como eu possa aprender chinês nem como eu possa fazer exegese (por isso, à época, gadameriano militante, em plena militância, Croatto podia chamar a exegese de eisegese...).
Nas p. 85-86 de A Luta de Classes: uma história política e filosófica, Losurdo enfrenta e, a meu ver, destrói, a perspectiva gadameriana. Mas não se preocupem, gadamerianos: tudo é preconceito! O que um gadameriano pensa e diz não tem parte com a razão, que tem preconceito dos preconceitos. O que um gadameriano diz, é a expressão pura do preconceito da tradição. De sorte que é um tolo quem procure fatos e verdades extra-tradicionais na fala de um gadameriano...
O engraçado é que o argumento que Gadamer usa para destruir o Iluminismo é a violência intrínseca da razão. E é verdade. Mas ela sabe! Já a saída gadameriana é incapaz de perceber que a sua retórica cria um sistema em que cada preconceito é intocável, de sorte que, ao se enfrentarem, a razão é inútil, e só a escopeta decidirá, em praça pública...
No fundo, a disputa política nas ruas tem traços bem gadamerianos: tradição, preconceito e desrazão a bradar palavras impossíveis de ser escutadas no meio da rua...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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