Vamos brincar de racionalizar mitos, isto é, vamos fazer teologia clássica, moderna ou pós-moderna?
Vamos! Eba!
Assim: na obra de um pequeno templo cristão de periferia, uma criança fura o pé em um prego de tábua e vê-se acometida de tétano. Vai morrer em dois dias.
...
Pois bem.
Deus a pode curar?
Pode.
Curá-la seria um bem para ela?
Seria.
Bem, já que Deus a pode curar e curá-la seria um bem para ela, se Deus não a cura, e não cura mesmo, porque ela vai morrer em dois dias, e ela e milhões de crianças, todos os anos, então Deus peca, porque quem pode fazer o bem e não faz comete pecado. De sorte que Deus é pecador.
Não, porque Deus não pode curar...
Ah, não? E então como é Deus, se há algo que ele não pode fazer?
Não, mas ele mesmo é que limitou-se em seu poder por força do livre-arbítrio que deu ao homem...
Bem, não entendo o que livre-arbítrio tem a ver com um pé furado em prego de obra, mas, em todo caso, Deus fez uma lei que ele mesmo não pode contornar?
Sim.
Então, a lei é maior do que Deus?
(...)
Podem ser os mais desgraçados dos homens, por alimentar em fogo brando um deus tão desgraçadamente pervertido, mas a única teologia que faz algum sentido, se teologia é racionalização de mitologia, é o ultracalvinismo. Isso faz de Deus um pecador, já que ele é poderoso, pode fazer, mas não faz porque decidiu não fazer, mas, para um deus, é melhor ser uma besta pervertida, mas soberana, do que um espectro retórico que não pode fazer alguma coisa que devia... O deus pervertido ao menos não faz porque não quer.
Inútil um, um crápula, o outro.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário