quarta-feira, 25 de março de 2015

(2015/319) Breve metáfora erótica sobre a discursivização do real

A coisa mais estapafúrdia, um equívoco colossal mesmo, me parece, é a discursivização do real. Empregarei metáfora sexual para o caso. Um rapaz se encanta pela vizinha. Ela é linda. Tudo nela é linda. Claro, ele é um rapaz, então o que é lindo nela são os atributos que seus hormônios estão desesperados para experimentar. Por contaminação erótica, todo o resto é lindo. Cada vez que olha para ela, são quatro voltas na fechadura do banheiro...

... Mas ela não dá bola para ele. Ele, então, fantasia, como rapazes (oquei, moças também, naturalmente!) fantasiam... Todos os dias. Às vezes, duas vezes ao dia. Casos mais raros, três. Fantasia de mente e mão...

A moça, todavia, sequer percebe a existência dele. Ela não lhe sabe o nome. Ela não sabe que ele a segue com os olhos, as mãos, a imaginação. Ela é um objeto capturado, mas radicalmente livre. Ela vai para onde lhe dá na telha. Há dias que ele a quer ver, mas ela não sai de casa. E há dias que ele a vê por um instante... Ele não tem controle sobre ela. Não manda nela. Ela não é uma boneca, um brinquedo, uma boneca inflável japonesa...

_ Está vendo aquela gostosa ali?, ele fala para o amigo, que olha para a moça com os mesmos olhos de tarado, estou bem pegando...

Sim, ele acha que masturbar-se com a imagem da moça é "pegá-la". Ele acha que capturar a ideia da moça é ter a moça. Ele acha que ele e a moça têm alguma coisa só porque ele recortou a silhueta dela do entorno em que ela circula e a fixou nas paredes de suas retinas, animando-se em seus momentos de alívio...

Quem é ele?

Um teórico da discursivização do real...









OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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