sábado, 28 de fevereiro de 2015

(2015/228) Sobre vovó e mamãe e os textos do Facebook

Alguém, curioso e educado, comenta a carta-resenha que escrevi para o livro de interpretação bíblica do Nicodemus e faz um comentário que acho que devo tornar público. O que ele disse foi: o tom da carta é educado, cordial, tem até uma carga devocional, mas seus posts no Facebook perderam essa carga e até a cordialidade - o que teria havido, ele pergunta...

Explicarei. A carta: era 2005 ou 2006. Era dirigida a uma pessoa específica. Fosse ao diabo, ainda seria cortês, por força da educação que recebi de minha avó e de minha mãe, à força de um sopapo aqui e outro ali... No face, eu escrevo para ninguém. Para todos - mas para ninguém. Tenho o leitor-tipo e escrevo para ele, que não existe. O leitor real deve saber lidar com os textos. Se não sabe, deverá aprender. É assim com smarts novos: compra-se, não se sabe usar, aprende-se. Se quer ler, aprende. Se não quer, não tem problema - há milhões de pessoas para serem lidas...

Mas é verdade que tenho aumentado a carga nervosa dos textos, ainda que sem perder a ternura... É a cada vez maior falta de paciência. Estou envelhecendo. Vai piorar.

Quanto à carga devocional, bem, há mais de uma explicação. Na carta, foi retórica: emular a atmosfera paulina, digamos, que abusa dos floreios, das doxologias, dos blá blá blás teológicos. Tentei fazer o mesmo. No entanto, não se descarte a hipótese de, há dez anos, haver ainda alguma sobra de devoção ao mito cristão em meu peito, ainda que administrada e cada vez mais assustada consigo mesmo...

Minha devoção ao texto bíblico hoje reduz-se ao respeito de tentar tratá-lo como merece. 99% das devoções que conheço são falsas - são devoções à leitura dogmática que enfiaram na cabeça do coitado: quando ele se defronta com a interpretação mais séria, apostata, dá ataques de pelanca, tira a roupa e sai correndo pela rua, maluco das encefálicas... Tudo pose, tudo pantomima, tudo teatro, tudo abissalmente insuportável...

Dito isso, volto para Sid Meier’s Civilization V, que ninguém é de ferro...














OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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