O que eu considero muito engraçado é ver que, depois de 1.800 anos de teologia ontológica mitológica clássica, descaradamente fantástica, maravilhosa, mítica, feérica, folclórica, o século XVIII e XIX inventou uma forma ainda mitológica, mas disfarçada, de fazer a mesma coisa: dar a Deus a descrição de Indescritibilidade, preservá-lo das mãos ávidas das classes populares, para a manutenção do status quo.
Há 2.500 anos, os sacerdotes fizeram o mesmo com Yahweh, tornando-o sem forma, inacessível (ao povo!) e estabelecendo a interdição pública do nome sagrado. Doravante, só o clero podia lidar com o divino...
Pois a teologia progressista (!) alemã, a intimista/pietista/erudita, fez a mesma: ao perceber que as massas começavam a assanhar-se, trataram de meter o Deus, até então descaradamente nu, de nádegas e pênis ostentados em cada nave e repartição pública, em burcas teológicas costuradas com retórica filosófico-mística...
Eu entendo o jogo deles...
Desentendo é que nós, em lugar de nos darmos conta do jogo político sórdido que foi esse negócio todo, tratemos tão seriamente a coisa a ponto de dar a ela aspecto ontológico, lidando com a ideia política de um Deus totalmente outro como revelação finalmente compreendida...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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