Entrevista
[acho que de]
- Pois não sinhô.
Meu trabaio
é arretirá
as viscera
das pedra.
- Pois não sinhô.
Qué oiá?
Qué oiá?
Podi oiá.
É barba pustiça.
- Us trapo di visti?
Ah,us trapu...
essis eu fiz
graças a benfazeja
culheita.
- U sutaqui?
U sutaqui?
Qué oiá?
Qué oiá?
É pustiçu tamém.
- Sem fotograma
sem fotograma
faiz favô
roba a alma.
- Onde mi banhu?
Ah
mi banhu com as lesma
us caramujo
us restu di cumida
as gosma
us cuspi
dentru
da inormi grota
dus inutensílio.
- U próximu
u próximu....
Usei esse poema, de que gosto muito, em um artigo que escrevi há uns meses. Gosto desse poema porque ele nos força a imaginar a cena, a adivinhar do que se trata, de quem se trata. Ele me lembra, assim, bastante, os textos hebraicos que, segundo Auerbach, e eu confirmo isso, escrevem faltando pedaços na cena, de um jeito que você tenha que preencher. Cântico dos Cânticos é um livro assim. Difícil de ler, e tanto que excelentes e famosos intérpretes, cansados de tentar perceber a unidade, chegam a falar em um mosaico de 44 poemas... Não é, não. É que é um poema para ser ouvido e recriado junto...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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