Jesus foi muito judeu. Muito. Nasceu judeu, viveu judeu e morreu judeu. Rei dos judeus, disseram, mas, com certeza, judeu...
Houve, todavia, um judeu maior do que Jesus. Saulo, o judeu. Mesmo depois, quando Paulo. Grego? Nada. As superficialidades helênicas desse judeu eram apenas acessórias - mas suas pupilas e retinas, o branco de seus olhos e as órbitas inteiras eram judaicas...
Não libertou um homem sequer do pior do judaísmo - o templo.
Não se elevou contra o desmando teológico, político, psicológico, moral, filosófico, do sacerdote.
Tomou-lhe o lugar.
Tomou a teologia do pecado: todo judeu, um pecador. Todo judeu merece morrer. Todo judeu deve ser linchado em praça pública. Tomou essa teologia sórdida e a inflacionou - não apena todo judeu, mas todo grego, todo romano, todo etíope. É homem? Pecador, digno de ser morto, poço de imundície, desgraçado e morto-vivo...
Paulo gozou todos os gozos dessa perversão moral e teológica. Saboreou cada gota desse caldo indecente em cada papila de sua alma... Fez dela o motor do anúncio que fez, faz-me rir, da salvação: nada além do mau judaísmo sacerdotal transferido para o instrumento de tortura romano.
Paulo não apenas não libertou judeu algum, como ainda prendou na masmorra do sacerdote judeu cada homem e cada mulher do mundo...
E você gosta disso.
Ah, eu vejo em seus olhos: sua alma se delicia...
Não sei se é porque gosta de sofrer a dor desse escárnio, se é porque gosta de impôr aos outros a dor dessa irrisão...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Nenhum comentário:
Postar um comentário