Sobre "consumismo"...
Estou indignado, como ser humano latino-americano, como homem que vem da pobreza e que não é nada além de um cidadão de classe média, estou profundamente indignado com a ode e a elegia contra o consumo...
Vêm dos países "civilizados" essas lufadas filosóficas - ladainhas contra consumo. Vêm dos países cujo padrão de vida é altíssimo essas homilias político-culturais - pregações contra o consumo. Desde suas casas e escritórios de primeiro mundo, com TV de plasma, carros de última geração, iPad e toda a família i, geladeiras de duas portas, coifas de inox, imóveis de padrão altíssimo e material de primeira, cortinas de 500 dólares e vidros verdes, casas de campo e milhas sobrando nas contas, vêm esses senhores, donos do mundo, falar contra consumo...
Ao inferno, senhores.
Ao inferno.
Eu quero é muito que o povo consuma. Quero demais que meu povo consuma.
Quero, senhores da Europa, homens acostumados a olhar o mundo a partir de seus umbigos graúdos eventualmente pouco higienizados, quero que meu povo, pobre povo, acostumado a restos e sobras, quero que meu povo meta o pé na jaca, que gaste à exaustão o pouco que tem, que compre TV, sofá, quadros, jarras, telefones, geladeiras, fogões, coifas, armários, pias, camas, guarda-roupas, chuveiros e duchas, boxes de vidro, sanitários de louça de primeira, espelhos de 2 metros, ar condicionado, estantes, tapetes, toalhas, enxoval, panelas, copos, talheres, carro, mesas, cadeiras, celulares, computador, notebook, vídeo-game, bicicleta, jóias, vestidos, calças, meias, lingerie, perfumes, cosméticos, produtos de limpeza, coisa cheirosa, muita coisa cheirosa...
Vão ao inferno, senhores...
Vocês já compraram tudo que uma boa vida moderna pode dar ao ser humano. E agora que chega a vez dos pobres, vêm os senhores com essa palhaçada de anti-consumo... Vão ao inferno, senhores...
Quero que o meu povo consuma tudo o que o seu povo consumiu, que tenha tudo que o seu povo teve e tem, e então, depois que meu povo tiver tudo que vocês, senhores, tiveram e têm, então sentamos para o armistício das compras...
Antes, guardem seu cinismo filosófico-civilizatório para a cerimônia do Nobel de arte-dramática...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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