Insinuam-me que meu discurso anti-doutrinário é anacrônico, porque os cristianismos de hoje estão cada vez menos voltados às doutrinas - está-se experimentando um período mágico, "neocapitalista", subjetivista etc. Será?
Eu acho que quem me dirige a crítica não está considerando doutrina como mito. Ele pensa que a doutrina é "verdade" e, como as cristianismo não estão mais interessados do discurso da "verdade" (apenas os tradicionais, em decadência, mantêm-se agarrados a esse regime de controle social), ele então acha que os cristianismos não operam mais sob o regime doutrinário...
Engana-se.
Doutrina é mito, mito de encantamento e controle social. A forma filosófico-sistemática que o mito adquiriu, dado o influxo neoplatônico, o coito amoroso entre o sacerdócio e o filósofo, o mito aparece, à superfície, como uma expressão de verdades - mas ele é apenas o que sempre foi: instrumento de controle social.
Assim, quando eu olho para quaisquer dos cristianismos de hoje, o que eu vejo é o mesmo de ontem: encantadores profissionais encantado multidões acríticas na direção da prática que eles, encantadores, determinam. Se o encantador quer xis, usa os mitos-doutrina para ter xis; se quer y, usa os mesmos mitos-doutrinas para ter ypsilom. Não vejo o desaparecimento das doutrinas/mito - vejo apenas o redirecionamento do encantamento, do feitiço, do entorpecimento: não se quer a mesma prática de antes, então, muda-se o uso e a retórica, mas será sempre por meio de mitos, disfarçados, claro, que os profissionais do encantamento alcançarão seus objetivos.
Ainda se vive, lá, no Império das Doutrinas. O mito ainda está bem vivo. Inclusive, nos livros de teologia.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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