Quando Menocchio, o moleiro italiano preso e executado pela Igreja, começou a sua série de acusações diretas e francas contra o sacerdócio, uma das cenas que mais me marcaram e funcionaram como uma aula de antropologia religiosa foi a seguinte. Ele está em uma sala de interrogatório e acusa o sacerdócio de ser mercadoria. E, então, emprega o seguinte argumento: se aquela árvore soubesse a penitência que preciso fazer, eu não dependeria de vocês, sacerdotes, mas vocês não querem que eu saiba o que vocês sabem, para que eu não deixe de depender de vocês.
Quanta lucidez para um homem de há 500 anos! Acho que não há 1% disso, hoje, por aí, nas naves...
Mas o que me chama a atenção é o fato de que ele estava em flagrante insurreição contra a Igreja, mas não contra o vírus teológico que ela o inoculara: ele queria livrar-se dos sacerdócios, não das doutrinas, da fé, da necessidades dos ritos de perdão e expiação.
Nesse caso, penso que em menos de uma década, voltariam os sacerdotes, ainda que em novo formato - porque os sacerdotes não são o problema principal, são secundários: o problema é a estrutura doutrinária, herdade de sacerdotes. Com ela introjetada na alma, o homem é vítima de si mesmo, tenha ou não sacerdotes de que dependa...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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