Gosto de ler sobre os profetas do Antigo Testamento. "Profeta" é uma palavra-gaveta. Cabe tudo lá dentro - categorias político-religiosas que não têm relação umas com as outras são tratadas como "profetas".
Dois casos - Elizeu e Amós. Provocativamente - e eu sei fazer outra coisa? - digo aos meus alunos que Elizeu é do tipo Moltmann, e Amós e do tipo Teologia da Libertação.
Explico.
A viúva chora a morte do marido e os filhos escravizados pelo credor da dívida não paga. Elizeu, dono poderoso das macubamrias proto-evangélicas, xamã dos poderes da magia santa, faz lá um alakazan (que faria Simão, o mago, virar os olhos e considerar Pedro fichinha!) e enche vasilhas e mais vasilhas de azeite. Dá o azeite para a viúva e fala para ela vender a metade e resgatar os filhos e usar a outra metade para viver sua vida com sua família...
Beneficência. Macumbaria gospel, da boa, poderosa. Ajuda a viúva. Mas não se interessa pela estrutura social. O homem que escravizou as crianças terá seu dinheiro e irá escravizar as próximas da fila. A Elizeu, o mago judeu, o bruxo de Deus, o beneficente homem de 'elohim, o precursor dos milagres do Cristo, a ele não interessam as causas dos problemas do povo: ele vai lá e, no varejo, abracadabra!
É, como eu chamo, as "teologias Moltmanns". São caras legais, Elizeu e Moltamnn - não duvido que queiram o bem das pessoas. Mas não são Amós: corrigem os defeitos da sociedade, mas não estão interessados em transformações radicias - deixa que Deus faz a mágica. São reformistas. São da Reforma. São in. Gene boa, mas com ideologia de assistência social...
Amós, não. Amós foi lá em Betel e pôs o dedo na cara do rei. Safados!, ele disse, Sem-vergonhas!, ele falou, Canalhas duma figa!, ele profetizou. Aí, o pau mandado do rei, Amazias, sacerdotes para essas horas, foi lá e mandou que Amós desse o fora, que fosse cantar em outra freguesia, que aquele templo, como todos os outros, sempre, desde sempre, era o Templo do rei e o Santuário do Reino...
Amós não está para o varejo: vai no atacado. Como o Sl 53, o Sl 58 - gente que sabe que a pobreza tem um nome: política, benê 'adam - o rei e os seus. Muito difícil de corrigir isso. Geralmente, só na revolução...
Sendo provocativamente, costumo dizer que esse Amós é do tipo da Teologia da Libertação, até no uso retórico que faz de Deus, como se Deus fosse o agente de libertação... Esse equívoco histórico-ideológico, tanto Amós quanto a TdL têm - não sei se acreditam mesmo que Deus é libertador de alguma coisa, mas acreditam que a retórica mobiliza...
Assim, falo a meus alunos que há duas teologias clássicas por aí - a "moltmanniana" (percebem que uso Moltmann como metonímia - a parte pelo todo?) e a "Teologia da ibertação". Contra as duas, tenho o uso retórico de Deus, a promoção direta ou indireta, consciente ou inconsciente da alineação. Mas, politicamente, acho que a Teologia da Libertação é melhor.
Todavia, entendo que, aqui e agora, se não tem a Teologia da Libertação, que sirva a "teologia moltmann"...
A questão é: por que não tem transformação radical mesmo, heim?
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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