(2013/866) Rascunho (imprestável) para um jornal de missões

Pediram-me que escrevesse um texto para missões...

Não, é sério.

Pediram-me. Eu adiantei-me a dizer que sou crítico demais para a coisa. 

Insistiram.

Eu disse que até escreveria, mas eles deveriam ler e ver se prestava.

Aceitaram. 

Devo escrever 800 caracteres até o final da semana.

Costumo escrever direto.

Dessa vez, terei de fazer esboços - porque, de pronto, não vai sair algo que agrade...

Esse, por exemplo, não dá para mandar.

Terei de tentar outro caminho...

(...)

Entendi. Ele era um politeísta normal, com os pecados normais de pessoas normais, iguais aos seus, por exemplo, as coisas você faz, quando ninguém está olhando, e você faz de conta que Deus também não...

Ele, a despeito dos pecados dele, iguais aos seus, vive a vida dele, em harmonia com os dele, seu povo, sua gente, respeitando as tradições deles, iguais às suas, mitos todos os têm, inclusive você. E ele. E os dele. E os seus. E eu.

Então, você o "evangeliza". Você rouba dele os mitos dele e injeta no cérebro dele os mitos que são seus. Ele, coitado, está, agora, em suas mãos. E você transfere a ele todas as injunções éticas maravilhosas de sua tradição - ame as pessoas, mas, se elas não amarem a Deus, Deus não as tolerará - e nem você.

Ele, então, bom aluno, perde a harmonia com os comuns. As tradições deles, que eram as dele, são, agora, estrume e mau. Ele tenta fazer deles outra cópia sua, você reproduzindo-se nele e ele reproduzindo você e ele mesmo nos dele.

Mas não querem. Ele, então, os anatematiza.

E instala-se o ódio entre eles.

Você, no domingo à noite, dá o testemunho de que salvou mais um.

Que a igreja anote e glorifique, entendo perfeitamente.

Mas, se Deus anota isso, deixa-me te dizer uma coisa: todos os mitos são perigosos, mas alguns são letais...

OSVALDO LUIZ RIBEIRO