quarta-feira, 5 de junho de 2013

(2013/568) Depois de Kierkegaard, Lévinas - até tu, Lévinas?


1. Meus dois principais autores de cabeceira hoje são, ambos, demolidores de reputações - impiedosos, os dois.

2. Losurdo contou-me como o adorado Kierkegaard, ícone da teologia considerada progressista, considerava que o povo não devia ler jornais. Não apenas os de esquerda, mas sequer os de direita. Ler jornais é para quem tem direitos - por exemplo, de orientar a direção em que a cultura deve caminhar, a política, as artes, o capital, certamente... O povo, bem, o povo é carne para alimentar o açougue da cultura, é boi, e deve apenas ruminar ideias feitas pela elite - bem ao modo de Gênesis 3, onde Adão e Eva deveriam submeter-se a Deus (isto é, ao clero) sem jamais decidirem por si mesmos o que era bom (tov) e mau (ra'), exatamente como os camponeses, para quem, porque eles tentavam libertar-se dos príncipes, Lutero disse que Deus criou quem manda e quem obedece e, claro!, eles, os camponeses, são os que obedecem... e, porque não, espada neles...

3. Kierkegaard é o bom teólogo: sabe tudo de Deus e do sábado... 

4. Agora, ontem à noite, meu amigo e gênio Edgar Morin me conta uma de Lévinas: e não sei qual dos dois cai mais em meu conceito, se Kierkegaard, que já olho com aborrecimentos da alma, ou se Lévinas que, confesso, por alguma razão, não me alimentava bons sentimentos, desde que o flagrei usando a retórica de Deus para dar valor aos homens...

5. Conto a história. Espinoza foi excomungado pela Sinagoga de Amsterdã, os mesmos judeus, digamos, que vieram para Recife e, depois, foram expulsos, quando os portugueses retomaram a colônia holandesa de Pernambuco. Morin dá o texto da excomunhão: "com a ajuda do julgamento dos santos e dos anjos, excluímos, expulsamos, amaldiçoamos e execramos B. de Spinoza (...). Que ele seja amaldiçoado de dia, que ele seja amaldiçoado de noite" (Morin, Meus Filósofos, p. 63). Bem se vê que o cristão é filho de judeu...

6. Mas nem todo judeu é judeu, nem todo cristão é cristão, porque, sdabemos, alguns anjos tornam-se diabos. Pois um deles, Ben Gurion, fundador do Estado de Israel, requereu à Sinagoga de Amsterdã que suspendesse a maldição - o que a Igreja fez com Galileu, por exemplo. Todavia, a Sinagoga recusou-se: Espinoza é, ainda, maldito, onde quer que esteja (a depender de Eclesiastes, uma grande porcaria essa maldição: vale um peido de percevejo!).

7. O que Lévinas tem a ver com isso? É que ele foi um dos que recomendaram à Sinagoga de Amsterdã que recusasse a suspensão da maldição que pesa até hoje sobre Espinoza: "Existe uma traição da parte de Espinoza"...

8. Nesse momento preciso, rasgo, figurativamente, toda a obra de Lévinas - que moral tem um homem para falar sobre o Outro, o outro, o diabo que seja, se sua alma exala enxofre e seu coração é incapaz de perceber a estupidez, a imbecilidade, a condição demônica daquela Sinagoga e de si mesmo? Um tronco oco a ecoar vazio...

9. Teus livros, Lévinas, são sepulcros caiados - a vida toda, tu quiseras ensinar-me o que não tens na alma. Talvez tu os devesse ler e aprender alguma coisa, salvo, claro, se teus livros servem para absolutamente nada que não seja vender-se a soldo para herdeiros.





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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