terça-feira, 28 de maio de 2013

(2013/554) Não, sob nenhuma hipótese, a Fenomenologia da Religião lida com Deus/Deusa?Deuses?Deusas


1. Em Fenomenologia da Religião, a expressão (ou fórmula) "manifestação do sagrado" não constitui uma declaração do fenomenólogo. É o fenomenólogo somente e tão somente assumindo o testemunho do hierofante, para quem e somente para quem há a manifestação do sagrado, manifestação essa que somente pode ser assumida como "objeto" a partir do testemunho e da perspectiva de quem testemunha (afirma testemunhar) tal manifestação.

2. Um fenomenólogo da religião - se o é, porque há muitos que são teólogos manejando retórica de outra área disciplinar - não testemunha, jamais (enquanto fenomenólogo da religião) o sagrado. Jamais! Certo, ele pode observar o espaço trabalhado pelos que testemunham (dizem testemunhar) a manifestação do sagrado, as interdições, os objetos sagrados, os ritos, mas ele sabe que tudo isso são operações levadas a termo pelos "religiosos" e que tudo isso tem o sentido que tem apenas por força dos próprios religiosos - e esse sentido somente pode ser captado pelo fenomenólogo da religião, enquanto tal e no exercício de sua especialidade, a partir da retórica dos religiosos.

3. Não, o fenomenólogo da religião não é, jamais, enquanto tal, um religioso.

4. Ele não vê o sagrado.

5. Ele apenas entende que os religiosos fazem o que fazem pelo fato de eles, a seu tempo e modo, "verem", "sentirem", "ouvirem" - sempre nos termos de seu próprio testemunho e apenas por meio dele - o sagrado.

6. Não, o fenomenólogo da religião não assume o testemunho do religioso da mesma forma como o religioso o assume: se o religioso diz que há um deus na pedra, não, para o fenomenólogo não há um deus na pedra - ele não é um ingênuo. Ele apenas aceita o testemunho do religioso, perscruta sua fala e a analisa, a fim de entender o fenômeno religioso.

7. Entender não é compartilhar, homologar e legitimar.

8. A compreensão que o fenomenólogo tem desse fenômeno não é "teológica" - em sentido clássico, nem "empática", se com isso se quer dizer legitimar a coisa toda. Trata-se de compreensão antropológica, filosófica, sociológica, histórica, - apenas isso.

9. De modo que, cá entre nós, não sei se faz sentido pesquisas que partam do pressuposto, por exemplo, da "manifestação do sagrado no Convento da Penha"  - salvo, claro, se o "pesquisador" é, na verdade, um fiel assumido ou disfarçado, racionalizando sua própria doutrina e rito.

10. Para um fenomenólogo, todavia, não há qualquer "manifestação do sagrado" no Convento da Penha ou em qualquer outro lugar - há, antes, na consciência do religioso que testemunha tal coisa a percepção dessa manifestação, nela, na consciência dele, e só nela, de sorte que o espaço é então trabalhado por ele, religioso, em função dessa percepção que ele diz ter.

11. Conquanto o fenomenólogo não vá reduzir essa percepção necessariamente sempre aos termos da Psicologia, da Antropologia, da Sociologia, de modo reducionista, está longe, todavia, de ele assumir esse sagrado como algo "real" para além do jogo antropológico, sociológico e psicológico próprio de seu olhar científico-humanista...

12. Se o é, naturalmente...





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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