1. O homem é uma espécie predadora? É. Não sei se um dia deixaremos de ser. Seja como for - o que isso quer dizer?
2. Volta e meia, alguém vem a público comparar a violência humana em relação a outros animais. Não tem a mínima ideia do que é a Natureza e se mete a fazer filosofia barata...
3. Há alguns milhões de anos - muitos - surgiu, pela primeira vez, nos oceanos, uma espécie animal que, seja lá por que razão, desenvolveu uma carapaça de calcário (concha). Não demorou muito para que a espécie dizimasse quase todas as demais, porque não havia defesa para eles nem predadores à altura. Ainda há sobreviventes deles "navegando" os mares, como o náutilos...
4. A espécie humana é desse tipo: em lugar de carapaça de cálcio, ele desenvolveu consciência - e isso faz dele um predador diferenciado.
5. Olhamos para nós como alguma coisa diferente: mas, uma espécie superior, olhando para nós desde milhões de anos luz de distância, diria apenas que nossa espécie desenvolveu capacidades que desequilibraram o ecossistema, exatamente como com os primeiros animais de concha.
6. O mesmo fenômeno ocorre, nesse momento, na Flórida. Depois de décadas de importação de animais exóticos e de outros ecossistemas para criação em cativeiro, e depois de: a) o furacão que dizimou o sudeste do país e b) o despejo de animais indesejados na natureza, serpentes gigantes, lagartos, ratos africanos que chegam a um metro e outros animais sem predadores invadiram o ecossistema e estão acabando com as espécies locais.
7. Não se enganem nem sejam tolos. Na Natureza, a calmaria se faz apenas pelo equilíbrio das dizimações. O número de devoramentos, caças, mortes, esquartejamentos deve ser tal que o equilíbrio seja mantido. Ele não é externo - é interno: é a relação dinâmica entre predadores (que devem ser poucos) e predados (que devem ser muitos) que deve manter-se - e se mantém por si mesma, no ponto de equilíbrio ecossistêmico. Ninguém controla isso: o próprio sistema se controla.
8. Qualquer variável: clima, introdução de predadores externos, ou o desenvolvimento in loco de espécies novas alterará inexoravelmente o equilíbrio do sistema, podendo, inclusive, degradar todo o ambiente.
9. A espécie humana é uma espécie assim: é tão inusitada em sua capacidade adquirida que desequilibra o equilíbrio natural - mas isso de forma natural. Não é um caso isolado. É apenas mais um.
10. Além disso, não se deve esquecer que não estamos no fim do processo - estamos no meio dele. Não sabemos como vai terminar, mesmo porque, diferentemente dos animais de concha, nós podemos tomar consciência de nossa condição natural de desequilibradores e tentar, se desejarmos, um equilíbrio. Não sei o que vai ocorrer. Seja como for, não há nada de não-natural na espécie, conquanto consciência não seja o mesmo fenômeno que as conchas dos primeiros hiperpredadores do mundo de animais superiores...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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