quinta-feira, 16 de maio de 2013

(2013/531) Não, o pecado de Adão e Eva não tem nada a ver com sexo


1. Hoje de manhã, ainda não sei se de forma séria ou de modo gaiato, um aluno insistiu em que Adão e Eva foram expulsos do Paraíso porque fizeram sexo...

2. Bem, vamos a algumas considerações.

3. É mito. Pronto. Não aconteceu. É apenas uma história com fundo teológico. Foi escrita para controlar a população campesina de Judá, camponeses (trabalho na terra) e suas mulheres, muitas delas, líderes religiosas.

4. Isso posto, resta verificar o que a narrativa do mito diz.

5. Não diz que o pecado foi sexo. Em lugar nenhum. Que o pecado tenha sido sexo é uma grande invenção da tradição - grosseira invenção.

6. O "pecado" que os redatores do mito pretendem apontar é a autonomia: o homem e a mulher não podiam comer da árvore do conhecimento do bom e do mau (tov e ra' não é bem e mal, mas bom e mau). Comer da árvore do conhecimento do bom e do mau é um modo de dizer que eles seriam como os deuses - isto é, que podiam, eles mesmos, decidir pelo bom e pelo mau. Os redatores do mito não queriam - mais - que eles decidissem por si sós, mas que decidissem a partir de Deus, leia-se, deles, sacerdotes, como sempre.

7. Em termos históricos, isso corresponde ao momento em que os sacerdotes assumiram a gestão do Direito, no início do século V. Até finais do século VI, inícios do V, o Direito em Judá era "civil" - não era "divino". Os anciãos decidiam os litígios menores nas portas das cidades, e o sistema monárquico decidia os casos maiores. Quando os sacerdotes assumiram o poder, tomaram para si a gestão da Lei.

8. No campo do mito, redigiram Êxodo, colocaram a Lei sendo entregue a Moisés, que personifica o sacerdócio, proibiram o povo de chegar "ao monte de Deus" e determinaram que, dali em diante, o Direito seria decidido por eles.

9. O texto d Adão e Eva é a legitimação mítica desse monopólio novo: Adão e Eva, isto é, os camponeses, não podiam mais, como haviam feito até ali, decidir por eles mesmos as questões de bom e mau - doravante, era o Templo.

10. Não há nada de sexo aí. Nada.

11. A sexualidade, todavia, e apenas a feminina, foi usada como marcador subjetivo: a prova que os sacerdotes inventaram de que a mulher era amaldiçoada por Deus era seu desejo sexual - isso, todavia, não corresponde ao pecado, mas ao castigo do pecado.

12. O trabalho, coisa do homem, é tornado maldito, e a sexualidade, ligada à procriação, marca da mulher, também: estamos diante de liderança religiosa que sobrevive de modo vampiresco - torna tudo imundo, podre, maldito, para posar de boa gente intercessora e viver da desgraça humana...

13. Gente má.

14. Vade retro...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

PS. pode até ser que minha leitura esteja errada - mas, a despeito disso, a explicação, então, precisaria ser outra, mas, em nenhuma hipótese, sexo.

2 comentários:

Luiz Felipe Kessler disse...

cai aqui de paraquedas, gostaria de perguntar qual o embasamento teórico para tais informações, visto que até onde sei, toda a teoria ou toda teologia surge a posteriore... pra alguem que vêm de um contexto religioso, é muito difícil aceitar tais afirmações, pois desmonta toda uma vida baseada em tais preceitos! estou chocado! mas muito curioso por saber mais!

Peroratio disse...

Leitura histórico-crítica (histórico-social) da Bíblia Hebraica.

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