terça-feira, 5 de março de 2013

(2013/197) De estudantes de teologia religiosos e acadêmicos - diferenças, problemas, caminhos


1. O MEC aceitou incluir a Teologia no rol dos cursos do Sistema Federal de Ensino. Convenhamos, isso dá à Teologia um status interessante - está na "academia", está na Faculdade, está na Universidade.

2. Bem, mas lhe traz, igualmente, e até mais, muitos problemas.

3. Pensemos n@ alun@ - doravante, aluno. Se ele é um estudante de Teologia que, antes de tudo, é religioso, é crente, sobretudo - mas o mesmo se aplicaria às outras tradições religiosas, ele participará do processo de aprendizado em um nível. Se é "mero" estudante de Teologia, mas não necessariamente um religioso, um crente, ele participará do processo de aprendizagem num nível totalmente diferente em relação ao colega religioso.

4. É que um lida com a Teologia na condição de verdade dogmática, revelação, norma. O outro, o segundo, lida com ela na condição de processo histórico-cultural, político-social.

5. Bem, estudar Teologia é, sobretudo: a) conhecer a história da Teologia - e a história da Teologia não é nunca aquela que as confissões ensinam, porque as confissões selecionam acontecimentos, inventam acontecimentos, floreiam acontecimentos, "interpretam" acontecimentos, sempre na direção de sua apologia. Ora, o religioso, quando "descobre" isso, entra em crise; já o mero pesquisador, não.

6. Mais - pensemos nas teologias bíblicas (para ficar apenas no caso cristão, paradigmático, não duvido, das demais tradições, quanto ao caso) - quando se aplica a exegese, a pesquisa histórica e filológica (sentido histórico das palavras e historicidade dos eventos mencionados), chega-se à conclusão de que o que as confissões dizem que os textos dizem não condiz com a realidade. As confissões assumem reinterpretações históricas - politicamente legítimas -, mas afirmam que tais reinterpretações estão no texto ou que seja a intenção do texto, quando, na verdade, não são: são resultados de processos hermenêuticos estranhos muitas vezes à problemática tratadas na narrativa - é tradição, norma, dogma. 

7. Ora, o religioso estudante, quando "descobre" isso, sente o chão se abrindo, porque, em lugar de estar estudando, pesquisando, ele está ali numa atitude de fé e catequese. Já o mero estudante/pesquisador, não. O fato de a confissão dizer xis e o texto dizer ypsilon não tem qualquer significado existencial para ele, que está ali apenas para estudar, sem qualquer preocupação com a confissão religiosa em si.

8. São, pode-se ver, duas atitudes muito diferentes. Um religioso até pode, não é difícil, assumir a atitude de pesquisa e estudo, deixar a fé de lado, enquanto estuda, e, depois, voltar à fé, se desejar. Pode. Não faz quem não tem condições psicológicas, maturidade, vontade. Mas o fato é que muitos estudantes religiosos sofrem à toa, como mariposas se debatendo contra o vidro, estraçalhando o corpo.

9. Esses estudantes se sentem bem em ambientes de controle do ensino teológico, em que se ensina, ali, apenas o dogma de sua tradição: o preço que paga pelo conforto é o engano, porque cuidará que aprendeu alguma coisa, e não aprendeu nada, apenas viu serem repetidas, dia após dias, as doutrinas de sua fé, apresentadas, equivocadamente - ms de propósito - como que fundamentadas nos textos. 

10. Se ele tivesse condições, coragem e autonomia para estudar, descobriria que o conforto cobra-lhe a verdade.

11. Penso que isso deixa o religioso numa situação muito constrangedora: aquele que se julga a luz do mundo precisa de muita escuridão, muita penumbra, nenhum sol, portas fechadas, janelas fechadas, para receber seu diploma...

12. Não quer que eu o leve a sério, não é?




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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