quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

(2013/165) De duas críticas à modernidade capitalista


1. Na tarde de segunda-feira, alguém comentava comigo, em tom bastante professoral, que há duas críticas à modernidade capitalista - no entender dele, a crítica socialista clássica, que vai dar em Marx, e uma outra, "baudelairiana", ele a chamou, que tinha a preocupação com a perda do estilo de vida simples do passado, da existência pré-moderna, dos valores antigos.

2. Sorri. O diálogo que se seguiu foi mais a tentativa de um fazer ao outro saber seu próprio ponto de vista, nenhum dos dois realmente disposto a ceder um centímetro.

3. Meu argumento foi recordar que, por exemplo, Gandhi elogiava muito Mussolini pelo fato de que ele propunha à Itália o retorno à vida no campo, "simples", os valores da natureza e da família - e não a modernidade capitalista... Diante dessa lembrança, a conversa mudou de rumo e perdi o interesse.

4. Como assim "valores do passado"? De que raios de valores se pode sentir saudade? Da situação degradada da mulher?, antes, quando Deus chancelava sua submissão aos homens? Os valores da elite e da nobreza, que punham o povo abaixo, sem direito sequer de esgrimir a palavra felicidade? O direito escravagista? O direito racista? De que raios de valores eles sentem falta? Dos valores feudais? Aristocratas? Eugênicos?

5. Talvez seja o mesmo sentimento que as classes ricas no Brasil hoje experimentam com os pobres viajando de avião ou motorizando-se... 

6. Eu suspeito mesmo, frontalmente, de todo e qualquer discurso de "saudade dos valores antigos". Não importa quem sinta essa saudade - desconfio...

7. Porque os valores modernos até já estavam lá, há duzentos anos: mas postos em prática, senhores, só depois das revoluções, das Luzes, de 1789 e - quem há de negar - depois das revoluções socialistas mais ou menos radicais...

8. E concordo com Losurdo - o desmanche do "estado de bem-estar social" que a Europa presencia não é outra coisa que não o arrefecimento da força das esquerdas, a sua vergonha diante do comunismo histórico - estamos presenciando a volta dos valores antigos, senhores e senhoras.

9. Ah, sim, meu amigo tentou usar Nietzsche, como exemplo da crítica "saudável" à modernidade. Certamente, como confirmei, num ouvira falar de Losurdo e sua obra-prima...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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