segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

(2013/116) Tornar-se cínico - perigo de todo esclarecimento cultural


1. Até agora, você vivia alienado da condição cultural - você vivia em uma condição naturalizada, crendo, e nisso estava equivocado, que as coisas são assim, porque são assim...

2. Então, você estudou e aprende - ao contrário do que muita gente diz, você aprende, sim, porque há fatos concretos a serem aprendidos e apreendidos... E você aprende.

3. E descobre a condição cultural em que vivemos, por exemplo, que tudo são códigos de conduta, que nada é absoluto em si...

4. E você tem, agora, duas alternativas - ao menos: a) assumir uma atitude crítica de adaptação ética ou b) tornar-se um cínico dissimulado...

5. Exemplifico o drama do esclarecimento.

6. Vamos à biologia...

7. O olhar masculino sobre a mulher.

8. Você olha. É um instinto, aliado à estética programática da mulher de despertar justamente seu olhar.

9. Aqui, abre-se a encruzilhada.

10. Ah, é natural - e você dá espaço e criatividade ao olhar...

11. Mas é casado...

12. Mas se torna um cínico.

13. Não inteiramente, porque, ao lado da esposa, disfarçará...

14. Entende o limite do cinismo?

15. Ou você pode desgraçar-se de outro modo.

16. Flagrar-se capturado pelo corpo que acaba de entrar...

17. Constranger-se, repreender-se, controlar-se, distrair-se.

18. É o que você faria, estivesse sozinho ou acompanhado de sua esposa...

19. Há alguma alternativa que me escapa?

20. Entendo que a consciência crítica é auto-castradora: mas não é o que se espera dela? Não é ela que me diz não roube a caneta de seu irmão?, não olhe para a mulher de seu vizinho?

21. A vida social não pede que cada um de nós se auto-controle? E mais, que cada um de nós seja íntegro?

22. O cinismo, o dar de ombros, não suscita, no fundo, o teatro social e, em última análise, o esgarçamento das bases da sociedade?





OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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