sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

(2013/081) Essa coisa das metáforas


1. A despeito de que Nietzsche escreveu parágrafos inteiros sobre a verdade história, de que tenha dito, e não foi uma ou duas vezes, que a verdade da história foi conspurcada; a despeito de ter falado de método e de ter dito que é a preguiça e a sua dificuldade os seus maiores inimigos; a despeito de ter apresentado ele mesmo o que entendia como a verdade de vida - diante da qual a posição dos outros, isto é, dos pobres, não contava, a despeito disso tudo, você só ouve uma e uma única citação do filósofo: a verdade é um conjunto de metáforas...


2. Bem, se a verdade é um conjunto de metáforas, segue-se que essa própria descrição da verdade tem o peso da pluma e a profundidade do espelho d'água - é, ela mesmo, metáfora e não tem parte com o real...

3. Por que, então, sacamos essa pistola?

4. Bem, só posso dizer que eu pessoalmente jamais a saquei nem a sacarei - e, diante de quem a saca, pergunto-me diante de que fenômeno me encontro.

5. Se é metáfora, porque está a me propor seu modelo?

6. Se é metáfora, porque há os ricos e os pobres, os poderosos e os fracos - isso é, também, metáfora? Ou metáfora é apenas qualquer coisa que se ponha contra esse discurso?

7. Contra o próprio Nietzsche, eu diria que ele usou a metáfora para esvaziar o discurso dos outros - o discurso revolucionário, ao passo que dava ao seu próprio discurso a densidade de Júpiter - e é exatamente a mesma operação retórica que percebo quando alguém saca a metáfora: é uma agulha com a qual se fura o balão dos outros, enquanto o próprio balão sobe bem alto...

8. Mas eu penso assim: se é metáfora, não vale o esforço de um embate público, Terçar armas em torno de... espuma? Espuma por espuma, ela se dissolve por si só, porque sequer é fenômeno, é epifenômeno.

9. Logo, ao Nietzsche que agarra a história com a mão, e a desanca, com raiva de seu rumo, esse eu levo a sério. Já o Nietzsche que se arma da retórica da metáfora para meter-se aí dentro, inatingível, esse já está morto - é por isso que recorre a esse expediente não-ético: perdeu a batalha: só pode espernear... e enlouquecer...




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sobre ombros de gigantes


 

Arquivos de Peroratio