quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

(2013/070) As palavras sobre as coisas

As palavras que dizemos podem ter duas dimensões.

Numa, elas se prestam a pousar mais ou menos adequadamente sobre a realidade. A despeito de nossas inclinações, de nossa ideologia, de nosso temperamento, qualquer um, em condições normais, poderá atestar a equivalência entre elas e o mundo real, à moda do que Freud chamou de princípio de realidade...

Na outra, elas são como projeções inconformadas, não se ajustam adequadamente ao real, no todo ou em substancial parte, dependem de ouvidos tão desajustados quanto elas, porque é no delírio e no desejo que elas vivem - e só: correspondem ao que Freud chamou de princípio de prazer...

Ora, julgados sempre seremos. Cada homem é juiz do outro, e desde que o juízo se faça na própria consciência, quem há de negar-nos o direito?

Todavia, também os juízos estão sujeitos àquelas dimensões: ora, procedem, ora, são como espuma de mar, dançando sobre marolas que o vento inventa...

Não me venham, pois, com espumas...

Não me sensibilizo com o gosto das pessoas.

Interessa-me saber se minhas palavras encontram eco na realidade. Se encontram, paciência - cada qual aguente o tranco. Se não encontram, indiquem-me onde e em que medida. Esforço-me por dar às minhas palavras a dimensão da realidade - conquanto esteja sujeito ao mesmo delírio que todo mundo.




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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