quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

(2013/069) Não, acho que não fomos feitos à imagem de Deus, não

Provocação:

- se você compreende [aceitar ou não é outra história] a tese de que todas as doutrinas são alegorias com base na polissemia de textos, mas, na prática, criadas absolutamente em desacordo com o sentido histórico dos textos, continue a ler.

- se você acha que as doutrinas são expressão direta os textos e não tem abertura para ouvir coisas diferentes, sem aumentar a pressão cardiovascular, não leia mais...

Dito isso:

Exegeticamente, não é possível afirmar que a declaração de que Adão (e sua consorte) são a imagem (tselem) e a forma (demut) de 'elohim ("Deus") no sentido de que "Deus" pôs no homem a sua condição "espiritual" ou qualquer coisa que o valha. Nesse campo de interpretação, não se está na história, na arqueologia do texto, mas nas história dos efeitos desse textos, na tradição. Ele foi lido assim, mas, enquanto registro de consciência história, não tem nada a ver com isso.

Desdizer uma coisa é mais fácil do que redizer algo em seu lugar. Mas arrisco uma hipótese. Estamos, aí, com essa declaração, no mesmo nível figurativo de Babilônia, onde o rei é a tsalmu (tsalmu = tselem) do deus, Marduque.

Aposto todas as minhas fichas, todas, que estamos diante de um texto monárquico (escrito antes de 520, para a inauguração do templo, sob Zorobabel).

Adão, aí, é o rei. Por isso ele governa/domina (mashal) sobre toda a criação, e é por isso que ele, o rei, é a imagem do deus...

Se minha leitura estiver correta, passou da hora de pararmos de usar esse verso como "prova" de que somos feitos, nós humanos, à imagem e "semelhança", de Deus. 

O texto é mítico, político e "datado".

Com alegoria, vá lá.

Mas, se sabemos o que é alegoria, não precisamos de textos para dizer o que, de fato, é a tradição que o disse...

Mas, quem sabe?, estou errado?




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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