"Contra os louvaminheiros: - A: 'Só se é louvado pelos seus semelhantes!'. B: 'Pois é! E aquele que te louva diz-te: tu pertences aos meus semelhantes'" (Nietzsche, A Gaia Ciência, 190).
1. Sim, mas não necessariamente no todo...
2. Não me iludo com elogios, louvaminhices, bajulações. Mesmo os elogios sinceros, não me deixo enredar por eles, venham de quem vier.
3. Porque não é verdade, no todo, o que Nietzsche disse. Não é necessário que alguém seja seu semelhante para que o bajule: basta que ele enxergue alguma coisa comum, ou que ele tome por comum, para que elogie, aplauda, louvaminhe...
4. Não, não é nem a você nem ao que você pensa, integralmente - é, apenas, àquela ínfima parte, aproveitável, do que tu dizes.
5. Os elogiadores, os louvaminhadores, os bajuladores, então, catam em você as pulgas que interessam. O cão, mesmo, fica na rua.
6. É possível que alguém que não é semelhante a você tome um aspecto do que você acaba de falar, aproprie-se disso em sua própria ótica e, por conta dessa utilidade providencial e circunstancial, você seja louvado...
7. Eu tenho um faro especial para perceber o que é que me tomam para me louvar.
8. Há um aspecto da minha crítica à religião, aos evangélicos de modo geral, à fé gospel, idiotizada - isto é, voltada para si e só para si mesma - que faz com que pessoas que não estão dispostas a ouvir minha crítica até o fim se sirvam, seletivamente dela, usando-a a seu interesse e, em troca, louvaminhando-me: a crítica à liderança.
9. Assim, vejo um monte de gente "repercutir" minhas críticas - mas, quando elas mesmos falam, abrem a boca, era também contra elas que eu falava. Mas elas se desviam, saltam de banda, para o lado, fingem que não é com elas, e mais, apropriam-se da crítica que ia na direção também delas e, então, lançam-na contra terceiros...
10. Eu vejo isso dia e noite. Onde quer que eu fale, eu vejo isso...
11. De modo que Nietzsche não está exatamente certo. Não é preciso que alguém seja meu semelhante para louvar-me: basta que transforme a minha palavra, que a molde a seu jeito, que me adultere, quem me corrompa, que dilua minha fala em água com açúcar, para dentro, e sal e enxofre, para fora, fazendo-me útil a seu próprio projeto. Então, aplaudirá.
12. Mas eu não me engano. Não a esse respeito. Também é por isso que não me deixo "seguir", não aceito adeptos, seguidores, discípulos - mando-os, todos, às favas... Porque, também, os adeptos apropriam-se de seu "mestre", e lavam sua consciência, transferindo aos outros o que deveriam aplicar a si mesmos.
13. No fundo, reconheço nos aplausos a sua impropriedade, porque o que estou dizendo é pesado demais, duro demais, para merecer palmas - aqueles que aplaudem, das duas uma, ou não entenderam a seriedade de minha crítica, ou desviam-se dela, disfarçando-se em "convertidos".
14. Ou será que haverá entre quem aplaude minha palavras, algum outro louco?
(...)
Mas, Osvaldo, se aos aplausos você reage criticando-os, se você tem dificuldade de admitir que um aplauso possa ter sido tributado por um semelhante, um, de fato, semelhante, por que, então, você escreve?
Porque não posso deixar de escrever. Ainda que saiba que não há muita gente capaz de ouvir - conquanto haja muita gente disposta a aplaudir.
Mas, Osvaldo, se aos aplausos você reage criticando-os, se você tem dificuldade de admitir que um aplauso possa ter sido tributado por um semelhante, um, de fato, semelhante, por que, então, você escreve?
Porque não posso deixar de escrever. Ainda que saiba que não há muita gente capaz de ouvir - conquanto haja muita gente disposta a aplaudir.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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