I.
O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem, por
causa do sábado (Mc 2,27).
Convido
vocês para uma breve viagem, montados, todos nós, em frases de efeito, como
essa, que Jesus teria usado: o sábado foi
feito por causa do homem, não o homem por causa do sábado.
Não sou
Jesus. Mas gostaria de sugerir algumas frases desse tipo, com esse efeito.
1. A Bíblia foi feita para o homem, não o homem para a Bíblia.
1. A Bíblia foi feita para o homem, não o homem para a Bíblia.
2. A Igreja
foi feita para o homem, não o homem para a Igreja.
3. A fé foi
feita para o homem, não o homem para a fé.
4. A
religião foi feita para o homem, não o homem para a religião.
5. As
doutrinas foram feitas para o homem, não o homem para as doutrinas.
6. As
liturgias foram feitas para o homem, não o homem para as liturgias.
Não se pode
ouvir a declaração de Jesus – o sábado
foi feito por causa do homem, não o homem por causa do sábado – e tomá-la
como uma referência fechada: um dito sobre o “sábado”. Não – trata-se, antes,
de uma declaração aberta, uma declaração de princípio: o homem, no seu mundo,
no mundo do homem e da mulher, tudo se meça por meio dele, o ser humano.
Estamos
diante de um princípio crítico e ético, da mesma envergadura que aquele outro,
dessa vez presente na dita Primeira Epístola de João: Se alguém diz: Eu amo a Deus e aborrece a seu
irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar a
Deus, a quem não viu?
II.
Nos dois
casos, nos dois princípios, é o homem a medida. O sábado – e mesmo o “amor a
Deus” – medem-se pelo homem.
De modo que
penso ser necessário um novo desdobramento daquelas frases de efeito.
1. Não sirva
a Igreja – sirva pessoas.
2. Não sirva
a Bíblia – sirva pessoas.
3. Não sirva
a denominação – sirva pessoas.
4. Não sirva
a Instituição – sirva pessoas.
5. Não sirva
a fé – sirva pessoas.
– posso
avançar? –
6. Não sirva
a Deus – sirva pessoas. Não sirva a Deus
– sirva a pessoas.
III.
Deixo vocês com dois profetas. Minto. Um, sim, é profeta. O outro é uma cooptação da figura
profética, um simulacro, uma farsa.
Primeiro, a
farsa.
Uma velha,
faminta e velha, cansada e velha, cheia de dias e sem pão. Ela cata gravetos.
Um homem está de pé. Ela para. Que fazes, velha? Cato gravetos, ela diz:
cozerei a última farinha que tenho, comerei o último pão que farei e
morreremos, meu filho e eu... O homem é desses homens-de-Deus, que julgamos ser
crias do neoliberalismo, mas não são, são crias do templo: primeira dá para mim
esse pão pouco e pobre que tens. Se deres, terás mais. Se não deres – ele não
diz, mas ela entende, está implícito – morra de fome a velha e o filho de
velha...
Há outra
velha – e há outro homem. A outra velha tinha um marido, que morre. Tinha
filhos, que, agora, estão escravizados como garantia de dívidas do defunto. Ela
não tem comida, não tem os filhos roubados, não tem marido. O homem olha para
ela – está cheio de compaixão. Volta para tua vila e ajunta todas as vasilhas
que puderes, ele diz. Ela obedece. Vai, junta as vasilhas. Ele as enche todas
com azeite. Vende essa parte e paga a dívida de teu marido, pega teus filhos e
os traz de volta. Essa outra parte, dela viva tu e teus filhos, que Deus te
deu.
E tu, profeta? Com que ficas?
Eu fico com
minha obrigação cumprida.
E o que
queres em troca, profeta?
O que já
recebi – a tua alegria.
IV.
Com essa
pequena comparação entre profetas e profetas, retorno àquelas frases de efeito
com que começamos nossa conversa – e quero aplica-las, agora, à vocação de
vocês.
Os homens não foram feitos para a vocação de vocês – a vocação de vocês foi feita para os homens. Vão embora. Vão servir aos homens. Vão cuidar das pessoas. Vão honrar a vocação de vocês, cumprindo-a no serviço às pessoas.
Os homens não foram feitos para a vocação de vocês – a vocação de vocês foi feita para os homens. Vão embora. Vão servir aos homens. Vão cuidar das pessoas. Vão honrar a vocação de vocês, cumprindo-a no serviço às pessoas.
E, ao final,
saibam que essa é apenas a sua obrigação.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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