2. Democracia, todavia, não é zona. Há critérios mínimos para se ter o direito de discutir. Bater-papo é uma coisa, jogar conversa fora é uma coisa, discutir assuntos que envolvem domínio de conteúdo, disposição de ânimo crítica e aberta, é outra.
3. Feita a restrição - a discussão pública tem de ser democrática, mas tem de ser coerente -, quero mencionar um aspecto da questão pública: quem determina a agenda?
4. Não é possível uma discussão pública, séria, sem que a agenda seja fixada: sobre o que se vai discutir.
5. Em uma época tão plural e democrática quanto a de hoje, o poder está não em ter a voz, mas em estabelecer a agenda.
6. Lembro que, há alguns anos, discutíamos que disciplinas deveriam fazer parte do currículo de um determinado curso. Todos os professores discutiram, foram convidados e convocados, receberam a minuta, puderam se manifestar. Houve bastante discussão e alguns enfrentamentos. Na última reunião, propôs-se retirar uma das disciplinas até ali mantidas e substituí-la por uma outra. O argumento apresentado foi assim: "Porque a Igreja prefere...". Era um pastor argumentando - até meu amigo: até hoje. Mas eu queria a disciplina que ia ser retirada para a "nova" entrar. Então, contra-argumentei: "Não sou pastor, sou ovelha, mas posso lhe dizer que, como Igreja, prefiro essa". Fomos a voto. Ganhei. Hoje, aquele é o único curso da área, que conheço, que tem aquela disciplina - Fenomenologia da Religião.
7. Determinar o que será discutido é uma forma de poder - e, hoje, uma das maiores. Porque você pode até tolerar que cada um fale o que deseja, mas é você quem determina sobre o que as pessoas falarão - e, claro, é o mais importante, sobre o que elas não falarão.
8. O face é um lugar interessante. Não há "um" poder a determinar agenda. Você pode assumir esse poder, dependendo de sua atuação. Por outro lado, você, quando forçado a discutir a agenda dos outros, tem a liberdade de expressar-se em conformidade com sua "ideologia".
9. Não é um modelo que caberia em sala de aula - não é um modelo adequado para "formação". É um modelo que pressupõe formação. Não é um quesito do qual possamos, enquanto país, nos orgulharmos. Por isso, há que se tolerar, até o limite, as impropriedades que invadem a nossa tela - e que perdoem, eventualmente, as nossas.
10. No limite, "desamigar" e pronto.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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