1. Assim como a chuva sobre para as nuvens disfarçada de outra coisa, invisível até aos olhos nossos, mas cai sobre nossos corpos na forma de chuva, líquida presença, também se volta contra nós, na forma de fundamentalismos, de intolerâncias, de obscurantismos, dos medievalismos inquisitoriais de toda espécie, a espiritualidade urdida contra toda reflexão crítica, contra toda desalienação do entendimento, contra toda ciência e entendimento, contra toda sanidade.
2. Também se faz invisível aquela espiritualidade, e sobe, sobe, sobe, mas não ao trono celeste, esse lugar de Feuerbach, mas para o cume das cabeças, e, ali, acumula-se em força indispersa, e quanto mais se acumula, mais se concentra, e quanto mais se concentra, mais se condensa e, condensada, transforma-se no espetáculo catársico da fé descontrolada e manipulável, da massa completamente tomada pelo "Espírito", convertida de ovelha em gado.
3. Há quem concordará com a denúncia do gado mágico. Há quem não. Daqueles que concordarem, a maioria, contudo, julgará improcedente vincular a orgia da fé à candura espiritual dos simples contempladores das alturas...
4. É o que eu ia dizendo: a água se disfarça em vapor, sobe, e volta líquida - só um acréscimo de ciência e muita observação crítica, contra todo senso comum, para desvendar o circuito de fazer-se a água ir de baixo para cima e de cima para baixo, a mesma, ora assim, ora assado.
5. Pois eu digo: é a mesma espiritualidade, que cuidamos sob controle: mas ela aguarda o momento de trocar de lugar conosco e de nos controlar, porque a espiritualidade não é serva, é rainha: servo é o corpo que ela comanda...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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