1. É curiosa a situação das teologias que se fazem escada para ir ao céu. São as batalhas de Deus contra Deus. Uma contradição ao vivo - cuja única saída é a fundamentalização de cada lado da batalha.
2. É a batalha dos que, com a Bíblia na mão, mas sem muito saber com ela lidar, referem-se a doutrinas, à moral, a alguma coisa de ético, à política, à denominação, aos próprios interesses, enfim, como se a ela se referissem. Mas nunca é a ela.
3. Do outro lado, os outros exércitos fazem o mesmo. Cada qual seleciona suas verdades, seus valores, seus gostos, seus projetos - e cada qual, Bíblia na mão, mas sem lá muito saber o que fazer com ela, lá vão ao céu, para de lá esgoelar algumas verdades de Deus.
4. Resulta óbvio, para quem tem meio cérebro pelo menos, que não pode ser de Deus que venha essa Babilônia de verdades auto-contraditórias. Se todos apelam para Deus na defesa de suas "revisões" teológicas, seus repensamentos, e se tais revisões se auto-anulam, ora, senhores, não pode ser de Deus o conjunto - é fraude e falso.
5. Como se resolvem, os soldados? Assim: nosso projeto é de Deus, o deles, não. Nós, por meio de nós, fala Deus - neles, por meio deles, não.
6. Fundamentalismos. É só o que há. Mesmo naquele lugar que se diz progressista, "verdadeiro Evangelho", esses mesmos que usam tanto de Deus quanto as mega-neo-catedrais, mas fazem como que humildemente... Quer ver qual é o carimbo dos papéis? É de Deus.
7. Talvez essa seja a boa notícia da invasão dos neopentecostais no Brasil: eles gritam em nome de Deus, exatamente como nossas presunçosas igrejas tradicionais. A esculhambação do Evangelho ajuda-nos a perceber a fundamentalização groseira do Evangelho, porque diante do circo de horrores que é a fé, só resta dar de ombros, e entrar no bloco da onda, ou esgoelar-se sempre em nome de Deus, o mesmo Deus e o mesmo esgoelar-se que o outro usa. O pastor neo-qualquer coisa de manhã terá de gritar mais alto, e os antigos pastores terão de gritar mais vezes: Deus está é aqui, está é aqui...
8. É risível. É tétrico.
9. Mas quem quer ter olhos na cara? Deus dá ibope. Dinheiro também.
10. Aí, corre-se para os salões, para "repensar", como a dizer: nós, não, nós estamos "repensando". Espere dois anos e verás o resultado do repensar: as mesmas práticas de há trezentos, exceto aquelas que a polícia não deixa mais e a Ética moderna impõe: o resto, Idade Média.
11. Senhores, eis minha radicalidade: onde quer que haja um repensamento de Deus, regado a Deus, onde quer que seja Deus a ser referido, não se enganem - não há nada de novo aí, nem pode haver.
12. E o que eu considero mais grave disso não é o mito em que se vive e do qual se vive (se me faço entender) - mas a arrogância de se achar que no passado se usou mal a Deus, porque se era mau, mas nós, que somos bons, nós, os bons, usamos Deus para o bem. Aí, meus amigos, nesse preciso pensamento, senhores, reside o grave perigo da fé. Os maus são os outros...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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