sábado, 10 de março de 2012

(2012/270) Bilac e dos Anjos - eu sentaria à essa mesa, calado e reverente...


1. Dois dos meus poetas preferidos: Olavo "eterno" Bilac e Augusto "das dores" dos Anjos. É o que eles dizem, como eles dizem: é o conjunto inseparável da obra, a matéria e a substância. Poetas e magos das palavras, diante dos quais, diante de cuja alquimia, muito do que se chama poesia arrasta-se na lama da sarjeta. Quem, senhores, dentre nós, dos nossos dias, tem essa pena e essa sensibilidade?

Dualismo
Olavo Bilac

Não és bom, nem és mau: és triste e humano... 
Vives ansiando, em maldições e preces, 
Como se, a arder, no coração tivesses 
tumulto e o clamor de um largo oceano. 

Pobre, no bem como no mal, padeces; 
E, rolando num vértice vesano, 
Oscilas entre a crença e o desengano, 
Entre esperanças e desinteresses. 

Capaz de horrores e de ações sublimes, 
Não ficas das virtudes satisfeito, 
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes; 

E no perpétuo ideal que te devora, 
Residem juntamente no teu peito 
Um demônio que ruge e um deus que chora.


Vítima do Dualismo
Augusto dos Anjos

Ser miserável dentre os miseráveis
- Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiosincrasias!

Muito mais cedo do que o imagináveis
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!

Psiquê biforme, O Céu e o Inferno absorvo...
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,

Ceva-se em minha carne, como um corvo,
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos!






OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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