1. Dois dos meus poetas preferidos: Olavo "eterno" Bilac e Augusto "das dores" dos Anjos. É o que eles dizem, como eles dizem: é o conjunto inseparável da obra, a matéria e a substância. Poetas e magos das palavras, diante dos quais, diante de cuja alquimia, muito do que se chama poesia arrasta-se na lama da sarjeta. Quem, senhores, dentre nós, dos nossos dias, tem essa pena e essa sensibilidade?
Dualismo
Olavo Bilac
Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
tumulto e o clamor de um largo oceano.
Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vértice vesano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.
Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes;
E no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.
Augusto dos Anjos
Ser miserável dentre os miseráveis
- Carrego em minhas células sombrias
Antagonismos irreconciliáveis
E as mais opostas idiosincrasias!
Muito mais cedo do que o imagináveis
Eis-vos, minha alma, enfim, dada às bravias
Cóleras dos dualismos implacáveis
E à gula negra das antinomias!
Psiquê biforme, O Céu e o Inferno absorvo...
Criação a um tempo escura e cor-de-rosa,
Feita dos mais variáveis elementos,
Ceva-se em minha carne, como um corvo,
A simultaneidade ultramonstruosa
De todos os contrastes famulentos!
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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