2. Enigmática a frase? Explico parte dela.
3. A palavra "crente" não era para ser sinônimo de "alienado", "desinformado", "teleguiado", "manipulado". Não era. Não há - necessariamente - nenhuma relação entre fé e alienação, desinformação, manipulação, controle. A fé pode expressar-se em ambientes de absoluta liberdade. Apenas nos ambientes dogmáticos, hierocráticos, "patológicos", perversos e pervertidos é que a fé se expressa por meio daquelas categorias.
4. Por quê? Porque a fé, aí, não é expressão de liberdade, mas de controle do poder sobre as pessoas - do clero, diga-se bem, sobre as ovelhas. A despeito das palavras bonitas que aí se usam - liberdade, graça, salvação - o resultado diário é o contrário: prisão, lei, perdição. Mas, como o registro dominante impera, mesmo os presos e perdidos se julgam livres e salvos.
5. O sistema impera por meio do controle das ideias, dos desejos, dos sentimentos, da sexualidade, até. Nenhuma nesga de autonomia é permitida: e esse é um dos segredos da ira incomensuarável da ortodoxia hierocrática contra a homossexualidade - está "fora de controle" (são amadores, esses candidatos a papas: se colocam, cordatamente, os homossexuais para dentro, em três gerações os controlam).
6. Uma vez que é o controle das ideias que mantém a prisão bem fechada, os prisioneiros não podem ter acesso a certas informações. Assim, o ciclo nunca se quebra, o círculo mágico da fé dogmática. Ambientes conservadores vão fazer todo o esforço, o máximo esforço, para impedir que as informações circulem.
7. Esse é o modelo de 90% das "casas de profetas". Em outros casos, as informações são trazidas, postas sobre a mesa, e destruídas "logicamente" pelos argumentos inteligentíssimos dos professores, para "provar" aos fiéis (sim, os alunos, aí, são "fiéis") que aquelas ideias são erradas e do diabo. É um sistema arriscado, porque só o fato de proferir uma ideia já a faz potencialmente eficiente. Só lugares onde os líderes têm mestrado ou doutorado, sabem grego e hebraico, mas são ultra-conservadores, ousam agir assim, porque se cuidam espetaculares na missão de emascular heresias.
8. Em algo entre 1 e 2% das "casas de profetas", as informações circulam. Nunca, é necessário dizer, no todo, porque mesmo aí mais da metade dos professores são conservadores. Mas - ao menos - aí se permite a presença de professores críticos.
9. Pois bem: nesses lugares onde só há controle de ideias, onde só se reproduz a platônica expressão da verdade - clerical -, não há crises: há reprodução do mesmo. São "escolas bíblicas dominicais" de luxo. O conteúdo é o mesmo, mas se usam palavras difíceis, a dar um ar de academia.
10. É um crime. Mas acontece todos os dias. Gerações inteiras de crentes são assim (de)formados. Primeiros e segundos anos sem crises. Tragédia.
11. Os seminários que assim se fazem acham que são bons. Não são. São a pior expressão da fé, depois da Inquisição. É a forma indecente, hipócrita e dissimulada de controle ideológico e social, por parte de quem, no escondido do gabinete, se julga instrumento de Deus. É imoral. É criminoso. Mas se faz. E ainda se agradece a Deus, de noite - detalhe que me faz perder as esperanças.
12. Escrevi há um mês que "Bíblia e oração" é um modelo desgraçadamente infeliz. Repito: é. E esse modelo nasce, se reproduz, faz seus clones, aqui, nesse ambiente a-crítico, deformador, de controle de consciências e vidas.
13. Aí, vem a nova onda neo-evangélica e usa torpe e deturpadamente versos isolados da Escritura (nesse sentido, nada novo), mas numa direção diferente daquela direção em que o modelo "seminário de controle ideológico" e "Bíblia e oração" desejaria.
14. Mas o que eles queriam? Se não ensinam - nunca - o povo a pensar por conta própria, mas enchem a sua cabeça com ilusões e alienações de fé e espiritualidade, tão logo alguém lhes ofereça mais fé e mais espiritualidade, por que cargas d'água ficariam no redil menor? Teleguiado por teleguiado, que seja na igreja da moda. Pelo menos ela é de grife...
15. E, como aprenderam a ser "pastores", por que não abrir um franchising da moda? É só pôr a mão na cabeça dele, que Deus toma conta...
15. E, como aprenderam a ser "pastores", por que não abrir um franchising da moda? É só pôr a mão na cabeça dele, que Deus toma conta...
16. Primeiro e segundo anos sem crise. Não se preocupem: ela virá amanhã, quando abrir a nova filial da mega-ultra-power-super-hiper-total-plus-up-neo-catedral da fé da mais nova igreja-sigla-grife do pedaço...
16. E ainda se acham "a" geração!
17. E ainda se acham...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
Um comentário:
Caro Osvaldo,
Uma vez que "o sistema impera por meio do controle das ideias" e, as informações circulam apenas em 1% e 2% dos seminários. Vejo que ter a oportunidade de ser um professor crítico de Teologia é privilégio de poucos.
Um abraço, Leonardo.
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