segunda-feira, 29 de agosto de 2011

(2011/492) Com Vattimo, contra Vattimo - sobre um ovo de serpente...


1. Com Vattimo, dizer que o Ocidente é o que é porque é cristão. Contra Vattimo, dizer que o Ocidente não é o que é por causa do Cristianismo...

2. Uma ilustração: os "brancos" chegamos à América - e trouxemos, dentro de nós, muitos vírus - alguns deles dizimaram populações em questão de décadas (além das armas, naturalmente).

3. Ora, o Cristianismo foi uma sociedade altamente elitista e de castas. O Cristianismo foi um apêndice hipertrofiado da sociedade romana, que o engoliu. Dentro do ventre de Roma, a massa cresceu, disformou o Império, e o substituiu - em todos os sentidos. O Feudalismo é profundamente cristão - mas poderia bem ser hindu, e não notaríamos a diferença...

4. Um miserável de um desavisado, diria um aristocrata do século XIX, horrorizado diante da Revolução, abriu a caixa de Pandora - em termos cristãos, e históricos, deu a Bíblia ao povo.

5. Dentro dela mora um anjo - ou um demônio. Para todos os fins, um vírus. Ela toda é sacerdotal e heterônima, mas dentro dela tem relâmpagos de libertação crítica: os profetas críticos (políticos!) do século VIII, as reações sapienciais e populares ("gramscianas") ao Templo, afirmações aqui e ali, nos Evangelhos. Dinamite pura! Um Deus que assume o lado dos... pobres... fracos... oprimidos... a escória do mundo...

6. Quanto tempo demorou para que, de posse dessa informação, camponeses se revoltassem no coração do coração do Cristianismo? E o que fez Lutero? Bem, surpresa teria sido por-se à frente da marcha. Bem paulino, para Lutero, escravo é escravo, servo, servo, senhor, senhor, conquanto não haja nem servos nem senhores... Entendem?

7. Não, não foi o Cristianismo que inventou o Ocidente moderno. Sim, foi nele, no Cristianismo que eclodiu a serpente. O ovo estava lá, escondido, sendo escondido... Mas eclodiu. E, eu diria, eclodiu contra os donos do Cristianismo, para quem, pudessem, permaneceríamos em barrocas consciências e aveludados tronos...

8. Acho mesmo que o esforço que o Cristianismo - real, o dos cleros e dos poderes constituídos - fez para deter a marcha revolucionária foi tão grande, mas tão grande, que os revolucionários não viram outra alternativa que não arrancar à força o que Yahweh prometera, mas, agora, não mais em nome de Yahweh, de Jesus, de Deus, de quem quer que seja: mas em nome dessa invenção moderna - a Humanidade e os "Direitos do Homem".

9. E todas as vezes que alguém me diz que a modernidade deve ir embora tão rápido quanto veio, mesmo que venha a ideia da boca mais insuspeita, dos caras mais "cabeças", eu me pergunto a serviço de "quem" está aquela fala - se de Deus ou do diabo... E até se, nesse caso, faz diferença...



OSVALDO LUIZ RIBEIRO

Um comentário:

Blogue Cast disse...

Acho que uma boa análise feita da modernidade e pós-modernidade (se é que existe isso) foi feita por Bauman em seu livro Ética Pós-Moderna. Nesse livro ele diz que é a própria modernidade que vai provar as vaidades de suas aspiraçoes. Nao sei, talvez, seria muito bom ouvirmos Morrin quando dia que nós só fomos civilizados superficialmente, talvez aí esteja o problema da modernidade.

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