1. Não, senhores, não se pode, com a "ética" de hoje, julgar a "ética" de ontem: assim dizem os "sábios", e nós aprendemos muito bem, muito cordatamente, muito bovinamente... Eram outros tempos, nos dizem, e esperam que nos satisfaçamos com essa lenga-lenga...
2. Pois bem, meus senhores: vejam se o grande John Locke, filósofo liberal inglês, não me sai um grande calhorda? Vejam o que o senhor filósofo escreveu:
O fabricante de tecidos, não tendo dinheiro à vista para pagá-los [os operários], fornece-lhes coisas necessárias à vida (trocando assim mercadoria com trabalho), sejam quais forem, boas ou ruins, o operário deve aceitar ao preço fixado pelo seu patrão, ou permanecer desempregado e faminto (John Locke, Considerazioni sulle conseguenze della driduzione dell'interesse. Organizado por F. Fagiani, trad. ital., Bologna, 1978, p. 76, apud Domenico Losurdo, Hegel, Marx e a Tradição Liberal, UNESP, p. 107).
3. Bonito!, não? O operário deve aceitar, religiosamente, felicíssimo, que o patrão lhe dê tecidos - bons ou ruins, tanto faz - em troca de trabalho, e olhe lá. Se não está satisfeito, morra de fome. Recorda-me, será por quê?, aquela passagem do encontro "liberal-sacerdotal" entre Elias (uma cooptação sacerdotal, certamente) e a velha viúva: dá-me, ou morre de fome, velha!
4. É surpreendente - é? - o encontro de interesses entre "filósofos" e o poder. No documentário Inside Job, aquele sobre a "crise financeira internacional", mostrou-se como "acadêmicos" de conceituadas Universidades estadunidenses emprestaram aval às operações financeiras desastradas e criminosas, recebendo por isso cifras acima de cem mil dólares, escrevendo artigos "científicos" em revistas especializadas, os quais eram empregados por lobistas no na alta esfera política do país...
5. Ainda temos muito dessa prática hoje em dia. À época da "Revolução Industrial", era gritante a exploração de crianças e mulheres nas fábricas... Começo a duvidar se os homens decidiram por boa causa "liberar as mulheres" - penso que os patrões é que julgaram muito oportuna uma mão-de-obra barata... Eram, mulheres e crianças "ocidentais", então, os "chineses" e "bolivianos" de hoje.
6. Agora, meus amigos, digam-me uma coisa: vocês acham que os operários achavam isso bom? Naturalmente que não. Muito naturalmente que não, tanto quanto as mulheres jamais gostaram de ser maltradas, nem os negros, escravizados. Eles, as vítimas, já sabiam o que queriam - viver com dignidade. Os valores já estavam lá, disponíveis, nos olhos de medo, na pele sangrando, no rosto de fome das pessoas oprimidas. Não havia chegado é vergonha na cara da canalha do andar de cima - e, naturalmente, da legião de "filósofos" que lhes lambiam as botas, decerto, duvidam?, porque não estavam no lugar dos pobres...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
PS. Losurdo está me fazendo começar a gostar de Hegel. Definitivamente, História é tudo.
3 comentários:
Prezado Oswaldo;
Não sei qual o fudamento de tanta indignação santa....rs
Se Deus não existe, tudo é permitido!
Não há base para moral.
Vivemos numa sociedade darwinista, o mais forte se impõe sobre os mais fracos.
O patrão manda e o empregado obedece, simples assim.
É a lei do mais forte.
Os animais matam para comer. O homem mata por prazer e tortura o outro rindo.
Os traficantes aqui do Rio de Janeiro julgam, torturam e queimam seus rivais no microondas rindo.
Eram todos muito "crentes", Galante. Nesse caso, não cabe a ironia...
Oswaldo, até o diabo é crente.
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