segunda-feira, 6 de junho de 2011

(2011/339) Paulo Henrique Amorim - Do verde e da miséria: queria ter estado lá para assistir à cena


1. Transcrevo, sem comentar, texto de profunda ironia - gosto da ironia - de Paulo Henrique Amorim. Não vou com PHA onde quer que ele vá: às vezes, dá mostras de uma ideologia, de uma defesa quase que sob encomenda, de algumas personagens que me encantam, igualmente, mas que me resguardo de tanta beijação pública. Assim, vou com PHA até onde posso - depois, assisto-o, de longe. Nesse, sigo-o. Se ele errar, erro junto. E não terá sido culpa dele.


Este ansioso blogueiro foi convidado para falar num painel sobre o Plano Nacional de Resíduos Sólidos para prefeitos e vereadores da região administrativa de Campinas, São Paulo.

O anfitrião foi o brizolista Mario Heins, prefeito de Santa Bárbara d’Oeste, que em dois anos de governo construiu seis Brizolões, onde estudam em tempo integral três mil crianças (oh, Darcy, onde estás?).

Esta segunda-feira celebrou o Dia Mundial do Meio Ambiente.

E acaba de entrar em vigor o Plano de Resíduos Sólidos, que dá aos prefeitos brasileiros o prazo até 2014 para acabar com todos os lixões do País.

Jamais haverá outro Morro do Bumba se a lei sancionada pelo Nunca Dantes colar.

O ansioso blogueiro ficou um pouco apreensivo com as palestras que o antecederam.

Sentiu no ar os eflúvios de um certo derrotismo, a predominância de certa Urubologia, um complexo de vira-lata, como se o Brasil fosse o que o PiG (*) acha que é: um imenso lixão (fora de São Paulo, claro).

Jogou no lixo o resíduo sólido que levava na bolsa e disse de improviso mais ou menos o seguinte.

Um repórter me procurou ao entrar neste Painel para saber o que eu pensava nesta hora em que o meio ambiente pede socorro.

Imaginei estar diante de um apresentador do Bom (?) Dia Brasil.

E respondi com a elegância que os amigos navegantes conhecem – só se pede socorro fora do Brasil, porque aqui é onde mais se respeita o meio ambiente.

E lá foi ele, sempre muito elegante, o ansioso blogueiro a explicar que não gosta quando tratam do meio ambiente como um capítulo autônomo, à parte da realidade social.

Como se a causa verdentreguista iluminasse os poucos iluminados que conheceram a Verdade!

Como se o meio ambiente ficasse fora do mundo real, das coisas do dia a dia, da realidade.

Para começar: nenhum país do mundo tem Código Florestal, fora a Austrália: e o Brasil, é claro!

Nos estados do Sul dos Estados Unidos, de onde saíram muitos Confederados foragidos para a região de Americana e Santa Bárbara, as margens do rio Mississipi foram destruídas pela cultura do algodão.

E mandam para cá ongueiros verdentreguistas…

O Bill Clinton esteve aqui semana passada e elogiou o etanol de cana, renovável.

Claro.

No estado dele, o Arkansas, não há um centímetro quadrado de mata nativa: foi tudo derruído pelos abatedouros de frango, que fornecem para a Purdue (que, a propósito, sempre financiou o político Bill Clinton).

Aqui, a gente protege 80% da floresta amazônica.

E não deixa plantar a 30 metros da beira de um rio – de qualquer largura.

Deus beijou a testa desse povo – e o ansioso blogueiro invocou testemunho de um padre ambientalista ali presente.

Porque Deus deu água ao Brasil.

E o Brasil tem a matriz energética mais limpa do mundo!

O ansioso blogueiro deu vivas a Santo Antonio, Jirau e Belo Monte, e fez comovida homenagem à Bláblarina.

Confessou que foi às lagrimas quando a ouviu defender a cópula dos bagres e imaginou que seria possível impedir a construção de Santo Antonio e Jirau.

(O ansioso blogueiro não sabe avaliar a reação de plateia – de deboche ou profunda irritação).

O ansioso blogueiro considerou que semana passada o Governo da JK de saias, ainda que bloqueado por uma imensa bola de colesterol, deu um importante passo na direção da defesa do meio ambiente e da adequada administração dos resíduos sólidos.

Lançou o plano “Brasil sem Miséria”.

Ao tirar dezesseis milhões de brasileiros da miséria, o Brasil terá menos catadores de papel; mais crianças na escola; mais instrução e educação, e, portanto, mais discernimento na hora de jogar lixo fora.

Será um desafio um prefeito acabar com o lixão até 2014?

Sim, mas nada que se compare ao que fez a indústria naval brasileira, que, em oito anos, transformou ruas de mato e capim em estaleiros monumentais que produzem – inteira – uma plataforma de petróleo como a P-56 -, batizada de Luiza Erundina , em cerimônia comovente em Angra dos Reis.

O Governo Fernando Henrique quebrou a indústria naval deste País.

E agora a JK de saias vai instalar uma indústria de navi-peças, porque, segundo ela, o Brasil tem política industrial porque pode e, quando não sabe produzir, aprende.

O ansioso blogueiro mencionou outro batismo realizado nesta segunda-feira.

Aquele que reuniu a Cosan e a Shell.

A Cosan é brasileira e é a maior produtora de etanol de cana do mundo.

A Shell é inglesa e holandesa e uma das maiores produtoras de petróleo do mundo.

As duas se uniram para criar a Raízen.

E em que vai investir a Raízen, amigo navegante?

Na pesquisa do etanol de terceira geração, extraído da celulose da cana, mais produtivo e ainda menos poluente.

Se o Brasil ainda não sabe jogar lixo fora, vai aprender.

E continuar limpo.

O ansioso blogueiro ousou sugerir a uma diligente e aplicada promotora de Justiça e curadora do meio ambiente na cidade, que mudasse o primeiro slide de seu power point.

Ela mostra uma cena bucólica, com neve e pinheiros, talvez numa fralda das Rochosas, no noroeste americano.

O ansioso blogueiro sugeriu que ela trocasse por uma foto da avenida das palmeiras imperiais no Jardim Botânico no Rio.

O mais deslumbrante símbolo da proteção ao meio ambiente que meus antepassados portugueses legaram ao Rio e ao Brasil, até hoje.

De mais a mais, aquela foto da promotora deve ser muito antiga.

Porque quando era repórter do Fantástico, ele foi à floresta do Pacífico Noroeste e viu muitos pinheiros.

Muitos.

Deitados em linha reta na boleia dos caminhões.

Para encerrar e antes que lhe cortassem o pescoço, o ansioso blogueiro disse que o prefeito Mario Heins começou a administrar os resíduos sólidos de Santa Bárbara no dia em que fundou o primeiro Brizolão.

E saravá.

Paulo Henrique Amorim




OSVALDO LUIZ RIBEIRO

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