1. Juro que tento. À minha volta, pipocam citações de Vattimo. É verdade que Losurdo lhe dá um golpe mortal, daqueles de fim de luta, mas Losurdo está longe demais do dia a dia, e suas 1.200 páginas desanimam e, para vattimonianos, pra quê?, de modo que são as reverberações pró-vattimonianas que nos afogam amiúde: a água já me bate ao pescoço!
2. Volto a uma página clássica: O Futuro da Religião, p. 64: "o conhecimento é sempre interpretação e nada mais do que isso". De modo que eu estou aqui a gastar - à toa - o meu tempo, porque isso que Vattimo acaba de dizer não é nada mais do que uma interpretação, e, pior, interpretação presa a si mesmo, porque não é que seja um interpretação de alguma coisa, é meramente, somente, apenasmente isso: interpretação - de nada, de coisa alguma, é uma espuma, é um dente-de-leão miraculoso, nascido de nada e de nenhum lugar, a voar ageograficamente. É um espetáculo, e ainda menos do que um espetáculo...
3. Se Vattimo me desse permissão para olhar para a coisa interpretada, a ver se posso dizer (ou não!) que ele esteja equivocado na sua interpretação... Mas não: ele é por demais escorregadio, para dizer pouco. É uma interpretação, toma!, e vira as costas, oracularmente. Na página anterior, dissera que a "hermenêutica" - que se tornou uma coisa, uma forma de dança - não tem a pretensão de ser um pensamento mais válido que outros, e que, escutem bem: "não pode evidentemente se sustentar com base em uma descrição de como (...) seria o real estado das coisas"... Fé! Vattimo prega a interpretação, e espera de nós a fé. Ou, para tornar tudo bem moderno: é cinema e televisão a sua filosofia - você assiste ao filme, quero dizer, lê o livro dele, e volta pra casa, para acordar às seis, na manhã seguinte...
4. Não me surpreende que insista o filósofo em que o Ocidente é cristianismo secularizado - saíram os anjos e Deus, mas a fé fica: sem fé é impossível agradar aos novos deuses filosóficos!
5. Registre-se: sou herege. Se duvido até do que Deus teria dito, quanto não duvidarei do que demiurgos escrevem? Mas eis o pecado judeu-cristão: a dúvida, a autonomia...
OSVALDO LUIZ RIBEIRO
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